domingo, 8 de novembro de 2015

Criminal - Capítulo final


Depois de mais de duas semanas, aqui vai o capítulo final de Criminal! (Milagre!)

Desculpas por demorar

Capítulo final


Sonya tinha marcado cabeleireiro nesse dia. Arrumou-se o mais possível, embora soubesse que sensualidade não era o seu ponto forte. Achava-se feia, magra demais, e ainda mais depois de ver as fotos das mulheres com quem o deputado Jett se relacionava, todas estilo melancia.

Por sorte, ela tinha outro ponto forte: uma magnífica capacidade de mentir. Era capaz de envolver qualquer um em sua poderosa lábia, de rir alto e chorar copiosamente sem estar sentindo absolutamente nada. Olhou-se no espelho, dando um último retoque no batom. Pela manhã, conversara com Scott, pela primeira vez em quase cinco anos. Foi uma conversa fria, sem sentimentos fraternos - unidos apenas pelo interesse comum - e eles decidiram que a Viola conseguiria o carro do marido emprestado, para que Sebastian o usasse na noite do assassinato.

Viola era mais que uma mulher melancia. Era gorda mesmo, e tão linda quanto. Tinha um sorriso encantador e, pelo que o irmão lhe garantia, era a pessoa mais inteligente que ele já conhecera. Infelizmente, ela nunca se dedicara a carreira nenhuma, por causa do marido.

Sonya pensou que, quando tudo isso acabasse, e Viola e Scott se casassem, a mulher poderia entrar na empresa da família pela porta da frente, e assumir algum cargo importante. Pessoas inteligentes são difíceis de se encontrar.

Deu um beijo no marido e vários nos pequenos, deixando-os brincando no quarto reservado aos brinquedos. Ela ficava muito mais aliviada quando os garotos estavam acompanhados do pai, em vez das babás. Aprendera com os próprios pais que nada poderia suprir a falta da família.

-Promete que não demora? - O marido pediu.

-Vou fazer o possível.

O restaurante em que foram se encontrar era um caríssimo, no centro da cidade. Ela pensou se o deputado não tinha medo que o flagrassem traindo sua esposa - embora ela não pretendesse nem tocar no nojento.

-Demorou - o pastor tinha um sorriso cínico.

-Foi difícil despistar o meu marido. Eu tenho dois filhos, sabia?

O garçom apareceu, e fizeram os pedidos. Sonya gostava de comer bem - apesar da forma física - mas pediu pouco, para não assustar o cliente. Assim que o empregado sumiu, ela se curvou, para ficar mais próxima do deputado e tirou da bolsa um pequeno frasquinho amarelo, com uma enorme caveira desenhada nele.

-Está vendo isso? - o homem fez um gesto positivo com a cabeça. - É com isso que vou me livrar da sua mulher e do seu indesejável amante.

O pastor deu um sorriso descarado, então perguntou:

-Eles vão sofrer?

-Se vão sofrer? Isto aqui é inalado, mas também penetra pelos poros. Os sintomas iniciais são coriza, sensação de aperto no peito e constrição das pupilas. Depois, vem a dificuldade em respirar, as náuseas e a salivação excessiva. Como a vítima continua a perder o controle de funções corporais, vomita, defeca e urina. Esta fase é seguida por espasmos. Por fim, a vítima entra em coma e sufoca numa série de espasmos convulsivos. O que acaba matando é a broncorréia e o broncoespasmo.

O homem esfregou as mãos, satisfeito. Aquela mulher era mais eficiente do que ele pensara. Ela lhe entregou o frasco, que foi segurado com muito cuidado, e examinado. Não havia nada nele, nem um nome, nem um rótulo, apenas a marca da caveira. Não resistiu perguntar, ao devolvê-lo para a assassina:

-Onde conseguiu isso?

-Não posso entregar minhas fontes.

-Você é maravilhosa!

Sonya sorriu, simulando estar encabulada.

-Seu marido pode esperar mais um pouco enquanto vamos a um lugar mais reservado, não pode?

-Seu safadinho! - tocou com a ponta do dedo no nariz dele, rindo. No fundo, queria cuspir na cara do sujeito e sair correndo. O garçom chegou com os pedidos e os dois comeram, com o deputado tentando ser sensual provocando a sua acompanhante. Ela foi contornando a situação, até finalmente se ver livre do sujeito. Ela só respirou quando se viu em seu carro, rumando para casa. Por precaução, usava graciosas luvas de seda, que ainda tinham a vantagem de enfeitiçar os homens, que as achavam adoráveis. achavam ser sexy.

Ficou ainda um bom tempo flertando com o deputado e garantindo que ele fizesse e agisse exatamente da maneira que queria, já tinha até pensando em uma boa maneira de não tirar o deputado de casa no dia do assassinato do senador, tudo daria certo, estava ansiosa para contar as novidades ao seu caçula.

No meio do trajeto, Sam telefonou. Ela usou o bluetooth do carro para falar com ele:

-Que foi maninho?

-Liga na TV Verdade, liga!

-Não posso. O que tá passando?

Ele aumentou o volume da TV e colocou o aparelho perto. “A Igreja Amor em Cristo está sendo investigada pelo Ministério Público, acusada de tráfico de pessoas. Este homem, que não quis se identificar, afirma que sua irmã foi uma das vítimas.” Em seguida, uma voz mecânica: “Eles disseram pra ela que precisavam de mulheres, que havia crianças desabrigadas e as mulheres eram as mais adequadas pra cuidar delas. Ela ficou com pena e foi, foi e nunca mais voltou.” A reportagem continuava: “Há dois meses, ela conseguiu fazer uma ligação para a família, na qual dizia que estava na Europa trabalhando como prostituta e não recebia um centavo do dinheiro que supostamente ganhava. A nossa equipe  ficou muito tocada e resolveu ajudar, qual não foi a nossa surpresa ao descobrirmos a verdade."

-Como o Seby consegue essas coisas? - Samuel comentava no celular, abaixando o volume da TV.

-Não sei, Sam, mas também não fico atrás, consegui as digitais do corno e ainda o deixei babando por mim.

-O papai estava certo, eu não nasci pros negócios da família, não sou tão minimalista como vocês, já teria dado um tiro nas duas cabeças e pronto.

-Sim, e já estaria preso. - Sonya retrucou do outro lado. - Agora me deixa desligar, vou passar no Seby e deixar o sarin digitado com ele, sabe como é, tenho dois filhos ainda pequenos e sarin não é um bom brinquedo.

-Boa ideia, beijo, Sonya. - desligou o celular.

Sonya rumou para o apartamento do irmão caçula, apesar do horário. Encontrou-o bebendo conhaque e assistindo a um filme qualquer. Deu-lhe um carinhoso beijo na bochecha e perguntou o que ele tinha.

-Nada, não tenho nada.

-É o Edric, não é? - falou baixo e viu que o mais novo hesitava em responder. - Está apaixonado por ele, não está? Sebastian Sobakin, eu troquei suas fraldas, não minta para mim!

Seby viu que não adiantava mais esconder. Deitou a cabeça no colo da irmã e chorou até não poder mais.

-Shhh, chora, chora - dizia ela e acarinhava-lhe os cabelos, pacientemente deixando que ele desabafasse. Enquanto os minutos foram passando e o seu irmão não foi se acalmando, começou a se preocupar. Era uma péssima ideia apaixonar-se por um garoto complicado como Edric. Seby só iria sofrer. - Seby, fala comigo, sou sua irmã.

-Estou cansado. - não levantou a cabeça do colo da irmã, mas tentou acabar com as lágrimas.

-Não, pode chorar. Eu entendo que você esteja sofrendo.

-Entende?

-Essa sua situação é muito delicada. Edric não deve ser o amante mais apaixonado desse mundo - e riu.

-É, você não tem ideia, não sabe como eu estou me sentindo.

-Claro que não sei! Mas eu estava brincando - beijou a testa dele. - Por que não manda ele lá pra casa, para ficar longe dele?

Sebastian deu um pulo de sua posição confortável e disse, impulsivo:

-Não!

Sonya sorriu. Sabia como era estar apaixonado e também sabia que a o caçula não sabia como era e deveria estar bem confuso.

-Então, meu amor, assuma para ele, quando tudo isso acabar, quem sabe ele não é o amor da sua vida? - falou rindo, pois sabia que seu irmão não acreditava em amor.

Sebastian baixou a cabeça, pensativo. Por um lado, a ideia o tentava. Mas havia o problema das próprias emoções do jovem Brooke.

-Ele foi violentado pelo padrasto. Ele me tem como um porto seguro e isso seria traí-lo.

-É, realmente tem um problema, Seby - após pronunciar isso, sentiu que tinha falado besteira. Procurou consertá-lo: - Nós vamos contornar isso, maninho. Eu sei que você vai saber contornar e eu vou te ajudar.

-Vamos? - repetiu mecanicamente.

-Lógico que vamos, você é meu irmão pentelho que me dá um trabalhão. - bagunçou o cabelo do irmão.

Sebastian ficou todo pensativo com o comentário da irmã e começou a se recompor. Sonya acreditou que seu comentário havia feito bem ao irmão e sorriu.

-Agora o verdadeiro motivo de eu ter vindo - entregou uma pequena maleta. - Sarin com as digitais do deputado. Mas cuidado, só manipula com luvas - e sacudiu as suas queridinhas. Ela tinha uma enorme coleção de luvas, para combinar com qualquer vestido que resolvesse usar.

O rapaz recebeu com um já refeito sorriso. Poria o plano em prática assim que Katlyn e Alicia deixassem o senador sozinho em casa.

-Bom te ver mais animadinho.

-Esses crápulas terão o castigo que merecem - finalizou Seby, sorrindo.

-Maninho, eu infelizmente tenho que ir embora, sabe como é, vida dupla… Fica bem. - beijou novamente a testa de seu irmão.

O rapaz guardou a maleta com o veneno no cofre e foi deitar, precisava colocar os pensamentos em ordem, nunca foi ou esteve confuso na vida, deveria se situar, ou colocaria todo o plano a perder.

Passou pelo quarto de Edric, que estava com a porta aberta, notou que o menor já estava dormindo - e, para ajudar, de cuecas de novo -, recriminou-se mais uma vez, não deveria estar sentindo o desejo pulsante que sentia, deveria controlar-se.

Já no seu quarto, atirou-se na cama, vestido como estava. Respirou fundo várias vezes, procurando relaxar. Seu corpo estava tenso e não obedecia. Decidiu ler um pouco, para se distrair. Pegou seu livro favorito, folheou, folheou, mas não conseguia se concentrar.


No dia seguinte, quando estava tomando seu desjejum, Sebastian recebeu uma ligação. Era Katlyn:

-Queria te agradecer.

-Não foi nada, tudo bem.

-Não, você não tem noção de como me ajudou. Vou pra Suíça com a minha mãe agora, dia 18.

-Que bom, fico feliz, por vocês, realmente.

-Não vamos nos ver tão cedo mais, então, de verdade, obrigada. - sorriu do outro lado da linha e desligou o telefone.

Dia dezoito. Mais cedo ainda mas, por sorte, a notícia do tráfico humano já fora veiculada na TV, o deputado já tinha declarado guerra ao senador em todos os jornais, era o assunto do momento. Além disso o senador confiava em Sebastian, tudo estava andando conforme o planejado.

Edric apareceu e sentou-se a mesa um tanto receoso, estava confuso com seus desejos, não queria, em hipótese alguma, machucar o seu benfeitor.

-Bom dia, Sebastian.

-Bom dia, Edric! - havia se convencido, no dia anterior, de que não sucumbiria ao desejo. Edric seria protegido, custasse o que custasse.

-Estou ansioso, hoje eu vou na Rachel.

-Verdade, havia esquecido. Que bom que está ansioso.

-E nervoso. Espero não ter uma crise histérica lá.

-Fica tranquilo, a Rachel é uma ótima psicóloga.

-Eu acredito em você, vai ficar comigo durante a sessão, não é?

-Se é isso que você quer… - sentiu o peso daquelas palavras, Edric confiava nele.

No dia 19, um dia após a viagem das duas mulheres, Sebastian foi à casa do senador Irvin Brooke, que se encontrava em casa. Havia dispensado os empregados e encontrava-se sozinho em casa, bebericando um uísque caríssimo. Pensava em como se aproximaria da pequena filha da cozinheira Yolanda.

-Sebastian, que surpresa boa. - abriu a porta e o convidou a entrar. - Estava pensando como conseguiria arrumar um adversário para uma partida de xadrez Aceita?, dispensei os empregados e estou sozinho em casa, para ajudar estou sem telefone, essas companhias são horríveis.

-Imagino - respondeu frio, adentrando a mansão. “Esqueceu-se” de contar que a razão pela qual ele estava sem telefone não se devia à incompetência das companhias telefônicas, e sim às mãos graciosas de Sonya, que habilmente cortara os fios.

Já dentro da casa, caminhou tranquilamente atrás do senador que falava sem parar, mexeu na seringa com o calmante que jazia em seu bolso e no primeiro descuido do senador, aplicou a injeção em sua nuca de uma só vez.

-Mas o que… - começou a sentir-se tonto, sua voz tornou-se pastosa, sua língua mole, os membros pesados e não conseguiu mais segurar o próprio peso, desabando no chão como uma mala velha. Apesar disso, estava consciente e viu Sebatian o carregar até o quarto secreto, e o algemar na cama, braços, pernas. Não estava entendo o que seria aquilo. Por um segundo cogitou que Seby tinha uma espécie de geatriofilia, mas logo descartou. As fotos na parede adquiriam uma coloração sinistra, da posição em que estava.

O Sobakin sentou-se na poltrona próxima e ficou ali em silêncio somente observando o efeito da droga ir passando e o senador começar a se debater. Em poucos minutos, ele já conseguia falar:

-O que você está fazendo?

-Esperando o efeito da droga que apliquei passar, assim poderei ter o prazer de vê-lo sofrer.

O senador apavorou-se tirando assim um sorriso do rosto de Sebastian que se deliciava com a situação. Impossível. Não, era impossível que alguém fosse fazer uma crueldade desse tamanho com um homem como ele. O velho tentou rir:

-Isso é uma espécie de brincadeira? - perguntou.

O assassino quase gargalhou nesse momento:

-Daqui a pouco você vai ver quão séria é essa “brincadeira”...

Desesperado, o velho se mijou nas calças e começou a suplicar pela própria vida:

-Não pode fazer isso comigo. Sou um defensor da paz, da justiça, da igualdade. Como pode tirar a vida de um homem como eu, empenhado em proteger o país?

Seby riu pelo nariz:


-Belo exemplo de homem público você é, mijando nas calças ao primeiro sinal de perigo. Além do mais, veja todas essas fotos aqui, de duas crianças que são suas filhas!

-Eu jamais faria isso, Sebastian pelo amor de deus, você me conhece.

-Você foi rápido, minhas vitimas demoram mais tempo para começar a suplicar normalmente. E outra, não seja mentiroso, sei muito bem do pedófilo que você é, seu porco imundo.

-Sebastian, mentiram pra você, não, acredite em mim, somos iguais.

-NÃO! Não somos iguais.

Ao ver que sua argumentação não funcionava, o senador mudou de tática:

-Quanto você quer? Diga, todos têm um preço.

-Sim, e eu já fui comprado. Infelizmente a ideia de privar o mundo de uma ameba como você não foi minha, sua cabeça está a prêmio, senador.

-Pois eu pago o dobro! - gritou, desesperado.

-Não, até porque de todos os trabalhos que já fiz, esse será de longe o mais prazeroso.

-Pago o triplo!

Sebastian sorriu sarcasticamente. Primeiro, porque sabia que o velho estava quebrado, nunca teria tanto dinheiro assim. Depois, porque jamais se venderia depois com a situação naquele pé não existia mais volta.

-Sabe, pensei muito na melhor maneira de liquidar com sua vida, afinal você merece sofrer, por tudo que fez as pessoas que se aproximaram de você.

-Sebastian, eu lhe considero um filho, temos tanto em comum. - tentava apelar para o emocional do rapaz.

-Por isso pensei em um veneno, não sei se conhece, Sarin. - ignorou completamente o senador e retirou o veneno do bolso.

-Eu o aceitei na minha família, lhe entreguei meu filho, minha filha, abri as portas da minha casa para você, não é possível que isso não mereça um pingo de consideração, Sebastian.

-Merece, merece a pior morte pelo que fez a uma criança tão pura do Edric, a uma menina tão cheia de vida como Katlyn. - mostrou o vidrinho com o veneno. - Esse veneno é poderoso. - levantou-se e colocou o vidro no abdômem do homem que gelou. - Ele é um gás, e, uma vez que esse vidro quebrar, o gás será liberado, você inalará e começará a sentir-se mal.

O velho começou a choramingar e implorar.

-Os sintomas iniciais serão a coriza, a sensação de aperto no peito e a constrição das pupilas. Depois, vem a dificuldade em respirar, as náuseas e a salivação excessiva. Eu adoro essa parte: logo depois você vai perder o controle de funções corporais, vomitar, defecar e urinar (se bem que isso você já fez) - e riu. - A fase final, é a minha favorita: você entrará em coma e sufocará numa série de espasmos convulsivos, até finalmente morrer.

-Não, pelo amor de Deus, não!

-Se eu fosse você não me mexeria tanto, afinal se ele cair, vai morrer mais rápido não?

Irvin prendeu a respiração. Não respire, não respire, senão o vidro vai cair. Sebastian gargalhou alto da reação do senador, que não conseguiu prender a respiração por muito tempo - e logo o frasquinho caiu. Mas, para sua surpresa, nada aconteceu. Ele não era de vidro.

-Nossa, como você é burro, senador, achou mesmo que eu colocaria o verdeiro frasco sem me precaver antes. - retirou o verdeiro frasco de dentro de seu bolso e uma máscara junto.

Ao ver que todas as suas tentativas falharam, o Brooke começou a gritar bem alto por socorro. Não era possível que ninguém ouvisse.

-Não grite, senador, nos poupe do vexame, ninguém o ouvirá mesmo.

-Isso é o que você pensa! Há um caseiro lá atrás, ele vai ouvir e vai vir o que é - era um blefe, afinal tinha dispensado todos os empregados para ficar sozinho com Katlyn (o que não aconteceu, claro, pois a menina já estava na Suíça) e não conseguira haver meio de os fazer desistir da folga.

-Então terei que adiantar meus planos, queria vê-lo sofrer um pouco mais. - começou a se arrumar, fechou sua jaqueta de couro até o alto da garganta, colocou sua mascara, levantou a luva, colocou o capuz.

-Não faça isso, Sebastian! Não é possível que alguém como você, que comprou o Edric, fique tão revoltado com as minhas idiossincrasias sexuais.

Comprou o Edric. Não por isso, porque naquela hora fora simplesmente comercial. Mas agora, em que ele estava loucamente apaixonado pelo garoto, isso havia mudado. Ficou tão distraído em pensamentos que não regulou a máscara corretamente, só conseguia pensar em Edric, tentava convencer-se que nunca faria mal a ele, que sempre controlaria seus impulsos, mas já começava a duvidar de si mesmo. Enquanto isso, o senador implorava, berrava, chorava, desesperado.

Voltou a si e travou a máscara, pegando o vidro com o veneno em seguida. Rompeu o lacre - nunca havia pensado porque esses produtos de contrabando tinham lacres - e viu o gás encher o quarto.

-Por mais que eu queira vê-lo sucumbir, não posso dar-me a esse luxo. Você deve me entender, não é? Vou me retirar, mas espero encarecidamente que você sofra bastante. - disse saindo do quarto em seguida, deixando o senador sozinho com seu desespero.

Desceu as escadas e saiu da mansão assim como entrou, sem ser visto. Retirou as roupas que usava com todo o cuidado do mundo, assim como a máscara e ateou fogo, para não deixar nenhum vestígio, entrou em seu carro e começou a dirigir de volta para casa, com a sensação de dever cumprido.


No meio do caminho, estava passando por uma autoestrada, quando começou a sentir um aperto forte no peito. Tentou controlar com a respiração, mas parecia impossível. Pensou se havia inalado sarin por engano. A visão começou a ficar turva e a saliva vir em excesso. Sim, havia inalado o veneno. Tentou encostar o carro para ligar para Sonya e pedir socorro, mas não acertou o pedal do freio. Pisou, sem querer, no acelerador, e viu o carro sair pela tangente numa curva, batendo no guard rail e capotando fora da estrada. Os airbags foram acionados, e, graças a isso, Seby caiu sobre os airbags, o carro caiu a 30 metros da estrada. Inconsciente, não pôde chamar ninguém para ajudá-lo.


Ainda nos arredores da casa do senador, Sonya consultou o relógio. Duas da manhã. Já dera tempo de fazer o serviço. Resolveu ligar pro irmão, o telefone tocou, tocou e nada. Tinha alguma coisa errada, Sebastian nunca deixara de atender, não importava a hora. Resolveu passar na casa do senador, pela última vez. O carro dele não estava mais lá. Mentalmente, imaginou que caminho ele poderia ter tomado para casa. Pela autoestrada, claro, ele era tão apressado. Foi fazendo o caminho a casa de seu irmão pela autoestrada da maneira mais lenta que conseguia, observava tudo à procura do irmão. Perto da curva mais perigosa do local, divisou, fora da estrada, uma massa disforme de metal. Seu coração falhou uma batida. Não, não é, repetia para si. Mas parou no acostamento, só para ter certeza. O carro era preto, a cor coincidia. Desceu a pequena elevação. Conseguiu, na semi escuridão, iluminada apenas pelos faróis do seu Mercedes, divisar a placa. Era a mesma.

-Seby! - gritou, aterrorizada. - Seby, por Deus, responde!

Chegou perto do carro. Agachou-se pra olhar pra dentro, onde viu o irmão inconsciente, deitado sobre o airbag. Por sorte, ele usava cinto de segurança.

Rapidamente, ela pegou o telefone. Ligou para o dr. Modesto Marino, seu tio, médico de confiança da família, explicando a situação. Ele logo mandou uma ambulância e os paramédicos para dar os primeiros socorros.

Sonya tinha que devolver o carro para Viola, que conseguira o carro do marido emprestado, então não pôde ir com o irmão. Ligou para a sua mãe, contando a situação. Ela logo correu pra atender ao caçulinha.

-Pelo amor de Deus, Modesto, como vai Seby? - Fiorenza apertava as mãos.

Modesto tinha cerca de sessenta anos, cabelos grisalhos apenas nos lados da cabeça, era alto e um tanto atarrancado. Não lembrava em nada a irmã.

-Nada bem, Fiorenza, o acidente foi feio. - respirava fundo, tomando cuidado com as palavras. - Nós já aplicamos o antídoto contra o sarin, mas ainda não foi possível ver se fez efeito.

-Sarin?! O que ele estava fazendo com um veneno tão perigoso?! - a pobre mulher estava apavorada

-Não sei, mas faremos de tudo para ajudar, mas ainda é cedo para qualquer resposta.

Sonya, por sua vez, nunca dirigiu tão rápido em sua vida, chegou ao ponto de encontro, perto da casa do deputado o mais rápido que conseguiu. Estacionou de qualquer jeito, jogou as chaves do seu irmão e a amante, tremendo.

-Sonya o que aconteceu? -  Scott entregou as chaves à amante e mandou ela se retirar.

-O Seby… o Seby… -  a irmã andava de um lado para o outro sem reação.

-O que aconteceu com o Sebastian? - o homem aproximou-se tentado passar confiança para a irmã que em primeiro momento não aceitou sua presença.

-Ele sofreu um acidente, capotou o carro e tudo. O tio Modesto já está cuidando dele e eu acho… - parou um minuto, chocada - acho que ele inalou sarin por acidente. Scott, o Seby não. - aceitou o abraço do irmão e aconchegou-se em seu peito.

-O que vocês tinham que fazer? Justo sarin?!

-A culpa foi toda minha! Eu tive essa ideia!

-Não, a culpa não é sua. - não soltou a irmã de seus braços.

-É claro que é! Se eu tivesse ficado quieta, o Seby tinha dado um tiro no véio e estaria tudo bem - começou a chorar. - Oh, Scott, o que vai ser agora?

Viola observava tudo de longe, imaginando qual o problema. Sem dúvida, era algo muito grave. Gostaria muito que lhe explicassem por que o carro do Robert era tão importante. Mas, achou que aquele não era o melhor momento para perguntar, se Scott havia pedido para sair, ele sabia o que estava fazendo. Entrou no carro e saiu.

-Vamos vê-lo? - convidou a irmã. - A mãe está com ele no hospital.

-Vamos, mas eu dirijo, você não está em condições.

Sonya não fez objeção. Ao chegarem ao hospital, encontraram a mãe numa sala de espera confortável. Ela torcia as mãos, preocupada. Ao ver o Scott, seu coração disparou. O filho pródigo ao lar retorna, pensou, antes de dar-lhe um gostoso abraço.

-Scott, querido, sabia que voltaria pra sua família!

-Mãe, como está o Seby?

-O Modesto falou que o estado dele é muito grave - explicou mrs. Sobakin. - Já deram o antídoto pro sarin - aliás, preciso saber onde ele conseguiu uma arma tão poderosa - e ele fraturou duas costelas, a perna em três lugares, teve uma concussão cerebral, duas paradas respiratórias, mas o mais preocupante é que uma das costelas perfurou o pulmão, e com o agravante do veneno, a respiração está muito comprometida. E, vocês sabem, falta de ar afeta o cérebro. Eu não sei o que farei se perder meu filhinho.

-Mãe! O tio Modesto está cuidando de tudo. Ele sabe o que faz. O pai já sabe o que aconteceu? - Sonya perguntou.

-Não, ele toma remédio pra dormir e só acorda na hora. Saberá só amanhã de manhã, mas deixei um bilhete para ele dizendo onde estou, caso ele acorde de madrugada e me procure. - segurava a cabeça desolada.

Scott abraçou novamente a mãe. Queria dizer que estava ali, para o que desse e viesse, mas não conseguia achar uma palavra de conforto para a querida mãezinha.

-Oh, Scott, é até um pecado, mas estou tão feliz que esteja conosco.

Sonya concordou com a cabeça.

-Temos que avisar o Sam, ele saberá lidar com o papai amanhã de manhã melhor que nós.


-Liga você, eu vou ver se alguém me dá alguma notícia. - entregou o celular ao irmão e sumiu portas a dentro do hospital. O promotor ficou olhando para o aparelho, indeciso. Além do pai, a briga mais feia fora com o Sam. Hesitava em ligar e causar outra peleja. Olhou pra mãe, que estava muito abalada. Ela não estava em condições de falar com ninguém. Tomou coragem e ligou.

-Fala, Sonya. Não, você não interrompeu nada, se era a sua intenção.

-Não é a Sonya, sou eu, o Scott.

-O que você quer?

-O Seby sofreu um acidente e estamos no hospital…

-Não é problema meu, Scott, bom resto de noite. - desligou o telefone.

Scott conhecia o irmão e sabia que ele não havia prestado atenção em uma palavra que ouvira, por isso ficou olhando para o visor do telefone esperando que o mais velho retornasse. Passaram-se exatamente 37 segundos até que o aparelho começasse a vibrar novamente.

-Alô?

-Scott, o que você disse mesmo? Não entendi direito.

-O Seby sofreu um acidente, assunto delicado para explicar por telefone, o estado é grave. - respirou para continuar,

-O Seby, acidente? Acidente de quê?

-De trânsito - agora lembrava-se o que mais o irritava no Sam. Ele era absurdamente lerdo. - Sam, vem para o hospital, aqui eu explico.

-Tá ok. Cês tão no hospital do tio Modesto, né?

Surpreendeu-se. O Sam que conhecia não era capaz de deduzir algo assim. Mas acabou por responder:

-Sim, vem rápido. - desligou o telefone a tempo de ir até Sonya que esbravejava.

-Isso é um absurdo!

-Sonya, isso aqui é um hospital, fale baixo!

-Não me deixaram ver o Seby, disseram que só quando a cirurgia acabar, eu quero ver o meu irmão. -

-Sonya, por favor. É claro que você não pode vê-lo durante a cirurgia. Fica calma.

-Scott, diz que vai ficar tudo bem. - abraçou o irmão se entregando às lágrimas.

-Calma, é o Seby, ele vai ficar bem, ele vai ficar. - tinha que controlar-se. A irmã era tão impulsiva quanto os pais. Às vezes pensava que ele e Seby eram adotados, para serem tão mais calculados.

Sam não demorou a chegar, acompanhado de uma belíssima mulher careca. Ela trouxera uma garrafa térmica com chá para todos.

-Cadê o Seby? - nem percebeu a presença de sua mãe, foi direto falar com o Scott e a Sonya.

-Ele está em cirurgia, ninguém pode vê-lo (né, Sonya?), mas o estado é grave.

-Como que ele foi bater o carro? Ele sempre dirige com tanto cuidado!

-Ele inalou o sarin. - Sonya se culpava.

-O QUÊ?! Eu avisei que ia dar merda, eu avisei, mas alguém me escuta? Nããão… “O Sam é burro, não dá trela pra ele”. Eu avisei.

-Samuel, agora não é hora, quando ele estiver bem, no quarto, você briga, agora não. - falou apontando para Sonya que ficou pior que estava.

-Isso se ele sobreviver. Aquilo é uma arma química, Scott.

-Samuel!

-E diz que não é verdade!

Rachel se aproximou do noivo, tocando suavemente seu braço. Foi suavemente também que ela disse:


-Todos sabemos disso, Sam. Mas não vai ajudar agora. Toma esse chá, vai te deixar melhor.

Estavam juntos ali, tomando o chá que Rachel trouxera, quando o Doutor Modesto apareceu.


-E Então? - Fiorenza cercou o médico.


-O Sebastian respondeu bem à cirurgia, mas ainda está entubado. Agora, precisamos dar tempo ao tempo. Os aparelhos cuidarão dele. Mas, tem algo que ainda me preocupa.


-O que é, tio? - Scott conseguiu se pronunciar.


-Ele não está respondendo bem ao antídoto do Sarin, iremos esperar doze horas, se ele não responder, iremos induzi-lo ao estado de coma.


-Não, meu bebê não. - Fiorenza foi amparada pelos braços do seu filho mais velho.

O médico tocou o ombro da irmã. Era doloroso demais pra ele dar essas notícias, ainda mais se tratando do seu sobrinho querido.


-Estamos fazendo todo o possível, Fiorenza. Este é o melhor hospital do país. Fique tranquila, ou tente pelo menos.

Ela enxugou as lágrimas grosseiramente. Em seguida, levantou os olhos para o irmão, confirmando com a cabeça. Depois, perguntou:


-Podemos vê-lo?


-Ele está no centro de recuperação. Não acho prudente, por enquanto. Vão para casa descansar um pouco e amanhã poderão vê-lo.


-Não vou conseguir descansar sabendo que meu pequeno está nesse estado! - desabafou a mulher, sufocando mais lágrimas.


-Quer que eu receite um calmante, minha querida?


-Não, quero que você cuide do meu bebê, só isso.


-Eu estou fazendo isso, Fiorenza. Vá para casa, descanse. - Pegou um bloco do bolso, onde fez alguns rabiscos. Entregou uma folha para Sam. - Compre esse remédio para ela, lhe fará bem. Amanhã, venham ver Sebastian. Eu nunca faço isso, mas ficarei aqui a noite toda e, se houver alguma alteração no estado dele, ligarei imediatamente.


-Não, eu vou ficar aqui com meu bebê.


-Mãe, vai com o Sam, descanse e converse com o pai quando ele acordar, eu ficarei aqui, juro para senhora que não sairei daqui um único minuto. - Scott falou passando um pouco de tranquilidade para mãe, que aceitou ser guiada pelo Samuel.


-Tá bom, meu anjo - beijou-lhe afetuosamente a bochecha. - Vai ficar também, Sonya?


-Acho que não, preciso ir pra casa ver meus filhos.


-Vai lá Sonya, eu fico aqui. - Scott beijou a testa da irmã.


-É rápido,Scott, vou só tomar um banho e avisar minhas família, eu volto rápido.


-Dorme até amanhã, Sonya. Eu ligo se algo mudar.

Todos se retiraram e Scott jogou-se no sofá da sala de espera, desolado. Culpava-se, em parte, pelo acontecido, afinal, Seby se envolvera naquilo para ajudá-lo. Pensou em ligar para Viola e contar o que acontecera. Depois desistiu, só iria preocupá-la à toa (se é que ela já não estava preocupada).

Acabou cochilando no sofá. Acordou várias vezes, sobressaltado. Nada de novo.


O velho Sobakin acordou no horário habitual, naquela manhã. Encontrou o bilhete da esposa e não perdeu tempo: foi correndo para o hospital do seu cunhado, onde sabia que ele estaria. Modesto teria que lhe dar notícias do filho. No hospital, porém, encontrou o outro filho. O Scott estava sentado em uma das salas de espera perto do CTI, cochilando de qualquer maneira em uma poltrona desconfortável.

No primeiro momento, não acreditou no que via. Scott, aquele ingrato, velando pelo irmão caçula? Impossível. Ele devia estar ali por algum outro motivo, talvez algum de seus novos amigos. Depois concluiu que seria coincidência demais.

Igor não ia conversar com o filho, até Modesto aparecer e ir na direção de Scott. Disse alguma coisa que o empresário não pôde ouvir. Então, este tomou a iniciativa de ir até o cunhado e dizer que não precisava dar informações sobre Sebastian para aquele ingrato.

-Essas informações só interessam à família.

O cunhado surpreendeu-se com a presença do velho Sobakin ali. O filho pródigo ergueu-se do seu lugar. Ambos não digeriram direito o que fora dito.

-Olá pai, senta. - seu tio havia acabado de lhe falar que seu irmão havia piorado, e para ajudar pediu-lhe que desse o recado à família, pois tinha uma cirurgia para realizar naquele momento.

-O que está fazendo aqui, Scott? - insistiu Igor.

-Pai, senta aqui. - insistia pro pai se tranquilizar.

Modesto pediu licença e retirou-se. Como presidente do hospital, não era comum que fizesse cirurgias, mas não pudera recusar aquela.

-Como está o Sebastian? O que o Modesto te disse?

-Ele piorou, o tio induziu ao coma, pois o pulmão dele já estava entrando em colapso. - Scott abaixou a cabeça.

-Como ele foi ficar desse jeito? O que você fez com ele?

Scott assustou-se com o comentário do pai, ele nunca fez mal a ninguém, muito menos a seu irmão, não era esse o motivo de ter se desligado da família. Pelo contrário. Mas a culpa por ser um dos beneficiados pela morte do senador aflorou.

-Vocês brigaram? - insistia o velho.

-Claro que não, ele foi encerrar o caso do senador com o veneno sarin, e, pelo o que eu entendi, ele inalou um pouco...

-Sarin?! O que deu pra ele usar sarin? Eu mesmo nunca usei sarin em nenhum dos meus casos! Por que disse a ele para usar esse veneno, o que passou na sua cabeça?

-Pai, pelo amor de Deus! Eu fui contra eliminar o senador. Eu queria notificar o Ministério Público contra os crimes do homem! Seby que insistiu em levar o plano até o fim! E eu nem sabia o que era sarin, até esta noite!

O velho abaixou a cabeça. É verdade, Scott era contra os negócios da família. Achava que tudo tinha que ser feito dentro da lei, e jamais pensaria em usar um produto proibido.

-Como você soube de tudo isso, então?

-Encontrei com a Sonya de madrugada e vim ao hospital com ela.

-Com a Sonya? Você fez as pazes com a família e eu sou o último a saber?

-Pai, eu nunca briguei com vocês, vocês que me excluíram de suas vidas. Eu nunca deixei de falar com o Seby. - quase não segurou as lágrimas.

O velho Sobakin comoveu-se com a atitude do filho. Ele o amava, e muito, e não conseguia entender como ele poderia negar o principal trabalho da família.

-Scott, meu filho. A culpa é minha. Você saiu da minha casa batendo a porta, dizendo que nos odiava. Eu fiquei furioso, e proibi sua mãe e seus irmãos de vê-lo. Mas Sebastian me desobedeceu, como sempre.

-Você e o Sam disseram que eu tinha sangue de barata. Eu tinha todos os motivos de ficar irritado

-Eu sei disso, meu filho. Todos nos exaltamos demais - deu uns tapinhas nas costas dele. - Agora vai voltar para casa, e assumir seu lugar de direito na empresa? Nosso advogado é um banana, sentimos muito a sua falta.

-Pai, você sabe que não, sou um promotor do estado e me orgulho disso.

-Também me orgulho do que conquistou sozinho.

-Mas, sempre que precisaram de mim, sabem onde me encontrar.

-Na verdade, não sei. Onde você está? Casou? Filhos?

-Não, nunca casaria sem convidá-los, vocês são minha família, por mais que não gostem disso. Mas, estou namorando uma mulher incrível.

-Mas isso é maravilhoso, filho! Quem é ela?

-A esposa do deputado Robert Jett.

-Esse é o meu garoto! - exclamou Igor, falando alto demais sem querer. Depois, mais baixo: - Soube que saíram umas denúncias feias contra o deputado. Diga para a moça se separar logo e casar de uma vez com você. Estou louco para ter mais netos.

-Acho que os do Sam chegam antes dos meus, ele e a Rachel estão bem sérios.

-Ih, filho, isso é só agora. Daqui a pouco eles brigam de novo. Aquela moça é complicada…

-Eu achando que ia encontrar a terceira guerra mundial instalada e vocês conversando normalmente. - Sonya chegou falando alto como era de sua natureza.

-Filha - mr. Sobakin se ergueu e segurou as duas mãos dela -, como que o Sebastian foi conseguir sarin? Isso pode matá-lo!

Ela sorriu amarelo. Mas mudou de assunto:

-Scott, vai tomar um café, eu fico aqui com o pai. Alguma novidade no estado do Seby?

-Ele está em coma induzido.

-Oh, meu Deus. Não deu as doze horas ainda.

-O Pulmão dele estava entrando em colapso.


Rachel e Sam levaram Fiorenza para a casa deste. A psicóloga usou seus conhecimentos zen para fazer um relaxamento na sogra, que acabou se acalmando e concordando em tomar os remédios. Dormiu logo. O casal, exausto, também voltou para a cama. Pelas 11 manhã, Rachel foi ver Edric. Alguém precisava contar pra ele o que houvera e seu noivo ia conversar com o pai.

-Oi, Edric, querido.

-Rachel? Eu fiz algo de errado no EMDR?

-Não, querido…

-Ah, o Sebastian não está, fui acordá-lo, mas ele já havia saído, entra.

-Eu sei, Edric.

-Como? - o jovem Brooke não entendeu.

-Eu sei que Sebastian não está.

-Também sei onde ele está, e é por isso que vim falar com você.

O jovem ainda não entendia. Sentou-se no sofá e fez sinal para ela se sentar também.

-Você sabe que Sebastian foi eliminar seu padrasto ontem à noite, não sabe? - o rapaz confirmou com a cabeça.

-Você sabe onde ele está? Ele foi preso? - havia visto a manchete do jornal, sobre a morte do senador.

-Sabe qual foi o método que ele usou? - gesto negativo. - Um veneno poderoso. Infelizmente, ele inalou um pouco do veneno.

-Não… Não pode ser…

-Você precisa ser forte e se tranquilizar.

-Onde ele está?

-No hospital.

-Eu quero vê-lo.

-Infelizmente não será possível, ele está no CTI e não pode receber visitas.

Ela se debruçou sobre a mesinha de centro e tocou o ombro do rapaz:

-Sei que está sofrendo, mas todos estamos.

-O Sebastian é tudo que eu tenho, ele não pode morrer. - falava com o choro embargado.

-Ele não vai. Está sob os cuidados do melhor hospital do país, que pertence ao tio dele.

-Quero ir pra lá.

-Não vai resolver muito, ele não pode receber visitas. Mas eu prometo que, assim que ele puder receber visita, eu avisarei você.

-Eu quero ir pro hospital!

-Edric, entenda que não há nada que você possa fazer lá…

-Eu não ligo, quero ir pro hospital!

Ela respirou fundo. Como dissuadi-lo? Acabou por ceder, afinal:

-Tudo bem, mas, por favor, tente controlar-se. Vamos lá.

Edric se controlou para não surtar no caminho, mas, ao chegar no hospital, foram recebidos pelo dr. Modesto, que explicou que Sebastian piorara. Por isso, teve que ser induzido ao coma, para proteger seus órgãos vitais que já estavam entrando em colapso.


Onde ele está? - perguntou tremendo.

Modesto ergueu uma sobrancelha:

-Quem é ele? - perguntou à Rachel, que não soube como responder. Acabou dizendo:

-É da família, pode deixá-lo ver Sebastian?

O médico pareceu não acreditar, e continuou:

-Já o conduzimos ao CTI. A família já o visitou… - foi interrompido por Sonya.

-Edric, querido. - abraçou o menor. - Tio, o Edric é muito importante pro Seby, vou levá-lo para ver meu irmão, tudo bem? - não esperou respostas, saiu abraçada com o menino.

O tio deu de ombros. Não estava gostando daquele auê no CTI, mas não interferiu.

Edric foi o caminho todo tentando manter-se calmo, mas ao chegar a porta do leito de Sebatian e vê-lo toda machucado, entubado, desacordado, não resistiu mais e caiu em um choro silencioso, mas comovente. Adentrou o local e sentou ao lado do leito, não reparou os olhares curiosos que a família Sobakin lançava para ele, somente pegou a mão de Sebastian e a apertou.

-Não me deixa, Sebastian. Eu te amo tanto. - beijou a mão do Sobakin que não reagia. - Por favor, você é tudo pra mim, fica comigo.

A família Sobakin assistia à cena sem se surpreender. Alguns deles, como a Sonya, já torciam para que aquilo acontecesse. Passaram-se uns cinco minutos sem que Edric se movesse, quando uma enfermeira tocou-lhe delicadamente o ombro:

-Precisa sair, as visitas no CTI não podem ser muito longas.

-Deixa eu ficar só mais um pouquinho.

-Infelizmente são as regras do hospital. Fora que está incomodando os outros pacientes.

Separados por biombos, havia vários outros leitos ali. Edric baixou a cabeça e concordou, saindo. Foi recebido do lado e fora, com um abraço apertado de Fiorenza.

-Calma filho, vai dar tudo certo, tem que dar.


Katlyn e Alicia voltaram correndo da Suíça para os preparativos do enterro do senador. A pobre garota não sabia o que pensar, pois o homem morto era seu pai, e, ao mesmo tempo, seu maior inimigo. Ela também não viu a mãe chorar. Podia jurar que ela estava tão aliviada quanto ela, mas resolveu vestir a carapuça da esposa sofredora.

Sonya, apesar do estado do irmão, resolveu ir ao enterro do senador. Lera o dossiê sobre a vida dele e reconhecera Alicia. As duas haviam estudado juntas no ensino básico. Sonya lembrava-se de que tinha até inveja da outra, tão bonita e inteligente. Quando estavam no primeiro ou segundo ano, Alicia largou a escola para se casar.

A assassina se aproximou da viúva, que se comportava muito dignamente. Tocou-lhe delicadamente o ombro:

-Alicia, lembra de mim?...

-Sonya? - nunca esqueceu da colega, sempre se perguntou onde ela estaria.

-Eu sinto muito pelo seu marido - mentiu. - Vim aqui porque queria vê-la - agora era verdade. - Faz tantos anos…

-Obrigada.

Afastaram-se do caixão, indo conversar em um lugar mais privado. Sonya observou a ex-colega e pensou como ela estava estranha agora, parecendo uma heroína de videogame.

-Como me achou, depois de tanto tempo? - perguntou a viúva.

-Eu vi uma notícia na TV e reconheci o nome.

-Ah, sim, claro. Mas e você, como está? Casada?

-Estou, tenho dois filhos lindos.

-Oh, veja só, eu também tive dois. Edric não está aqui, está estudando em um colégio interno que eu não sei qual é. Meu marido não me disse. Você acredita? Agora ele está morto e eu não posso trazer meu menino de volta, nem pro velório do pai.

Sonya quase disse “eu sei onde seu filho está” mas se conteve.

-Fique tranquila, mais cedo ou mais tarde ele entra em contato com você e assim você poderá vê-lo.

-Não sei se ele vai querer me ver. Eu fui uma péssima mãe.

-Por que diz isso?

-Como eu não pude perceber que meu marido fazia aquilo com as crianças? Como?

-Calma. Como você saberia?

-Eu nunca dei um banho nos meus filhos, ele nunca deixou. Ele dizia que era trabalho para as empregadas, que eu não devia estragar minhas unhas com isso. Eu não os amamentei. Eu mal sou mãe deles, Sonya.

-Não diga isso, você é mãe deles, daria a vida por eles, não é?

-Sim, mas eu não pude protegê-los!

-Mas pode agora e é isso que importa.

Alicia chorava e Sonya a puxou para um abraço. Não conseguia se perdoar. A colega de infância a fez lembrar-se da vida antes do senador, uma vida alegre, sem preocupações. Chegou a lembrar-se de que sonhara em ser médica. Mas, a vida não permitiu.

-Sabe, Sonya, vou lhe contar uma coisa, um segredo meu. Edric não é filho do Irvin. É filho do grande amor da minha vida, que infelizmente não está mais entre nós. Eu fui tão burra. Se eu tivesse fugido com ele, tudo seria tão diferente.


-Não fique assim, veja meu exemplo: Meu irmãozinho está internado por causa de um acidente que eu meio que provoquei, você deve conhecê-lo ele andava frequentando a sua casa, tinha conhecido o senador.

-O Sebastian é seu irmão? Ele é um amor. Foi ideia dele tirar a Katlyn de casa. E eu não entendia por que ela ficou tão feliz com isso. Acho que ele sabia, não é?

-Não sei, se sim ele não comentou comigo. Mas olha, eu preciso ir. Meu irmão tá no hospital, muito doente, tenho duas crianças pequenas em casa e tudo o mais. Vou te dar meu telefone, você me liga e marcamos um café, pode ser?

-Claro, melhoras para ele.

-Mas, me liga mesmo, temos muito que conversar.

-Pode deixar.


Os dias iam passando e o estado de Sebastian ia melhorando aos poucos, já havia sido transferido para o quarto e já respirava sem ajuda de aparelhos, Edric ficava em seu quarto quase que período integral, vigiando seu “sono”. Fiorenza chegou a discutir com ele em alguns momentos, para que ele fosse para casa descansar e a deixasse cuidar um pouco do seu bebê. Os remédios que induziram o coma já haviam sido totalmente retirados, mas o caçula dos Sobakin não havia acordado ainda. Numa tarde de quarta feira, Edric estava segurando sua mão e falava com ele, muito baixo para não incomodá-lo:

-Seby, acorda pra mim, por favor? Eu te amo tanto, preciso de você aqui comigo, por favor? - abaixou a cabeça debruçando-se sobre o peito do enfermo chorando as lágrimas tão comuns.

Sebastian acordou sentindo o peso de Edric sobre seu peito, não tinha forças para falar ou esboçar alguma reação, ainda não entendia onde estava, usou toda a sua forças para apertar a mão que de Edric.

-Sebastian! - se sobressaltou quando sentiu o aperto ser retribuído. - Sebastian, você acordou! - exclamou, ao ver aqueles belos olhos abertos. Beijou as costas da mão dele. - Vou atrás de um médico, você não fecha esses olhos. - saiu correndo para achar uma enfermeira, um médico, qualquer um.

Estava mal humorado, mal acordara e sentia como se fosse um boneco, já havia passado por milhares de exames, não conseguia achar Edric, não conseguia falar direito, sentia como se seu corpo houvesse sido esmagado por um rolo compressor. Agora que voltara ao quarto, via toda sua família ali, queria dizer que estava tudo bem, para tirar aqueles olhares preocupados, mas não conseguia.

-Que susto você nos deu, em? - Scott foi o primeiro a se pronunciar.

-O que passou na sua cabeça, Sebastian? Sarin? Você poderia ter morrido… - Igor falava, gesticulava.

-Calma, pai, agora acabou. É bom te ver acordado, Seby, não faz mais isso não, tá?

Olhou para a direção da Sonya e viu Edric, não conseguiu desviar o olhar, ele parecia tão abatido, estava mais magro, com olheiras. Queria poder dizer que tudo ia ficar bem, mas não conseguia falar, de sua garganta só saia sons, nenhum palavra e isso o deixava mais irritado.

-Calma, Seby, você passou muito tempo entubado e ainda está muito debilitado, não força. - Samuel o impediu de prosseguir tentando.

-Isso, querido - agora era a mãe - descansa, pra ficar bem fortinho.

...


Sebastian segurou a mão de Edric e sentiu-a fria. A sua própria também tremia um pouco. Ouviu, muito baixinho, a tão desejada palavra: sim.

Nesses últimos cinco anos, haviam vivido tantas coisas e tão felizes que poderiam dizer que se haviam passado apenas cinco meses. O juiz pediu que ele repetisse: as testemunhas precisam ouvir, ele disse. E Edric repetiu: sim, nada me faria mais feliz.

-Podem se beijar - disse o juiz, e não precisou esperar muito para Sebastian agarrar o outro, dando-lhe um beijo profundo e sentido.

 Edric se consultava regularmente com a Rachel e o próprio Sebastian tinha acabado de ser liberado da fisioterapia.

A festa transcorreu muito bem. Amigos e parentes reunidos para celebrar o amor era algo maravilhoso, Edric já sentia-se em casa com a família Sobakin e Sebastian se adaptou bem a sogra e a cunhada, que agora se tratavam com terapias.

Scott também estava ali, com Viola - grávida - e a filhinha desta. Ela separara-se do marido após estourar o escândalo com a igreja. Jett não fora preso, mas sua moral estava por baixo.

O pequeno filho de Sonya - o mais novo - carregara as alianças.

Todos estavam muito felizes, e ansiosos por mais um capítulo nas suas vidas.


-s-s-s-s-s-s

E fim!

Queria pedir, mais uma vez, desculpas por atrasar tanto a postagem do último capítulo, mas, na semana passada, fiquei sem internet. Quando ela voltou, eu estava fazendo concurso e aí, vocês já sabem, né? Sim, hoje eu tive concurso de novo.  Por algum milagre, consegui postar.

Enfim, já recebemos pedidos de segunda temporada, mas estamos pensando (mais pra frente). Era pra finalizarmos com o lemon, mas não rolou.

Bom, obrigada pela paciência (e por lerem).