sábado, 24 de outubro de 2015

Criminal - Capítulo 4 - Verdades


Agora, finalmente, Seby vai contar a verdade ao Edric! Quem estava ansioso, pode ler rs

Criminal - Capítulo 4 - Verdades

Sebastian espirou fundo, iria contar a verdade mais cedo ou mais tarde, só não esperava que fosse tão cedo.

-Edric, você não sabe algumas coisas importante sobre minha família e sobre nossos negócios.

-Por exemplo, como você soube daquele leilão e foi parar lá?!

-É, isso também.

-Antes de você me explicar, me responde uma coisa: Tudo que você me disse foi verdade, não é? - já tinha lágrimas nos olhos, pensando que tudo não passava de uma mentira, que os abusos iriam continuar e que tinha confiado na pessoa errada.

-Claro que é! Eu nunca mentiria pra você. Eu disse e repito, ninguém, nunca mais, vai fazer nenhum mal a você.

Edric estava com os olhos úmidos:

-O que é então?

-Antes de começarmos essa conversa, senta aqui - apontou para o sofá, sentando logo em seguida. O jovem obedeceu, de cabeça baixa, mas a ergueu após sentar-se e olhou firme para o outro, esperando.

-Eu não sei por onde começar….

-Pode começar com a sua relação com o senador. Você disse uma vez que eu era um investimento a longo prazo, por quê? Por que me comprou?

-Bom começo - sorriu nervoso - Eu fui àquele leilão para me aproximar do Mr. Brooke e te comprei pelo mesmo motivo.

-E você queria se aproximar do senador por quê?

Sebastian respirou fundo e começou a escolher as palavras.

-Por que fui contratado para isso - nunca em sua vida havia tido dificuldade com as palavras.

-Contratado? Como assim? Sebastian, vai direto ao ponto, eu aguento.

-Com exceção do Scott, nossa família não é muito convencional aos olhos da sociedade, digamos que não andamos de acordo com lei.

-Direto. Ao. Ponto - interrompeu o jovem.

-Ok, eu fui contratado para matar o senador Brooke, por isso estava ali, por isso comprei você, eu precisa me inserir na rotina dos Brooke, eu a Sonya herdamos os negócios da família, somos assassinos.

Edric ficou paralisado. Assassino?


-Edric? Edric?

-É muita informação - sussurrou.

-É, eu sei

-Mas você vai, tipo, matar o senador?

-Vou, esse é meu trabalho. Como eu disse, Sonya e eu herdamos os negócios do papai.

-Teu pai era assassino também?

-Sim, ele e mamãe.

-Nossa! - Edric estava boquiaberto. Fora parar em uma família de assassinos profissionais, realmente não tinha sorte.

-É, imagino a sua cabeça. Bem, não somos psicopatas, nem matamos por diversão, tem haver com trabalho, são só negócios.

-Só negócios - resmungou, pensativo. - Quantas pessoas você já matou? Sabe?

-Nunca contei, mas várias. Desculpa se te decepcionei.

-Diria que me surpreendeu - respondeu

-Surpreendeu?

Edric passeava pela sala, observando as coisas como se nunca as tivera visto:

-Imaginei que você fosse um empresário normal. Quantos anos você tem?

-É, não sou nenhum pouco normal, tenho 22 anos.

-Nossa, como você é jovem. Imaginei que tinha uns 30.

-Eu tenho cara de velho, não fale isso para a Sonya.

Edric riu:

-Ela também quer parecer jovem, que nem a minha mãe?

-Não, a Sonya está bem com a idade.

Dessa vez ele ficou supreso:

-Como assim, bem com a idade?

-A Sonya tem a mesma idade da sua mãe, 34 anos, ela não liga para isso, só que odeia comentar.

-Ela é incrível - ficou por alguns minutos em silêncio, depois disse: - Vou dormir, pensar no que você me disse.

-Tudo bem, só mais uma coisa, não você não pode, sob hipótese alguma, comentar nada disso com ninguém. Você entende que não dizer nada disso a ninguém, não é?

-Ninguém acreditaria mesmo - e riu. - Boa noite, Sebastian.

-Boa noite, Edric, durma bem.

-Vai ser difícil dormir depois de tantas revelações.

E foi para o seu quarto, deixando Seby sozinho - mas não por muito tempo. O telefone tocou em seguida. Era Sonya.

-Maninho, pode falar?

-Posso.

-Olha só a ideia que eu tive: o deputado tem porte de arma. E se eu roubasse uma arma dele e você a usasse pra matar o mr. Brooke? Só para o caso do Sam não conseguir Sarin para nós.

-Pode ser.

-O que houve com você, maninho? Sua voz tá diferente.

-Acabei de contar toda historia para o Edric.

-Você o quê?! - ela pareceu nervosa. - E agora ele vai correr pra casa, contar pro senador e acabou nosso plano.

-Não acho, Sonya.

-Ah, verdade, tem o lance dos abusos. Acha que ele compactuaria com a morte do sujeito?

-Não sei, Sonya, não tenho ideia, ela foi dormir, não disse nada.

Ela suspirou.

-Vamos ter fé. Mas, por via das dúvidas, não deixa ele sair sozinho.

-Tá, pode deixar.

-Maninho, posso fazer uma pergunta?

-Adianta eu falar não, Sonya?

-Tudo bem que ele sofreu tanto, mas por qual motivo você se importa? Você nunca foi de ligar muito para as opiniões dos outros.

-Não tenho ideia, Sonya. Me pergunto a mesma coisa.

Ela fez barulho de beijinho.

-Tá gamadão nele, é?

-Não viaja, Sonya.

-Ele seria um bom cunhado. E os meninos adorariam tê-lo como tio.

-Sonya, nem se eu quissse ter alguma coisa com o Edric, Ele já sofreu tanto nessa vida! Tive uma conversa com a Rachel hoje, ela me disse que essa relação de confiança que ele tem comigo não deve ser quebrada.

-Ui, a Rachel. Tá certo, tá certo. Ah, falando nisso, vou jantar com o deputado. Quer alguma coisa dele?

-Joga conversa fora, fazendo ele odiar mais o senador e outra coisa: se aproxima para que ele confie cegamente em você.

-Sabe que sou especialista nisso.

-Não esquece de enrolar ele, ele não pode nem sonhar que é o Scott.

-Pensa que eu sou boba, maninho? Agora me deixa desligar, já estou atrasada.

-Tchau, Sonya, boa noite. - desligou o telefone e recostou-se melhor no sofá. Ficou pensando em toda aquela situação e acabou dormindo ali mesmo.

Edric havia levantado para tomar uma água e parou seu trajeto para observar o mais velho, que dormia desconfortavelmente no sofá. Gostava dele. Gostava muito. Sebastian lhe representava um porto seguro, a bóia de salvação. Mas não conseguia digerir direito a ideia de que ele fosse um assassino profissional, frio e calculista. Voltou ao seu quarto e pegou um edredom, com o qual cobriu o outro. Ficou alguns minutos velando o sono do mais velho, lembrando de como ele via certeza nos olhos dele, de como ele parecia saber de tudo. Não resistiu, e beijou-lhe a testa, arrependendo-se em seguida. Correu de volta para o quarto, e lá ficou a noite toda, acordado.

No dia seguinte, Katlyn acordou muito cedo, nervosa. Sua mão tremia tanto que ela mal conseguiu passar o lápis no olho. Estava certa de que Sebastian iria raptá-la, e levá-la para viver com ele em algum lugar bem distante do monstro que era o senador. Na aula de Educação Física, ela ficou olhando o relógio o tempo inteiro, ansiosa pelas nove e quinze. Sua amiga tentava lhe passar confiança, mas não estava dando muito certo. Quando deu o horário, as duas conseguiram escapar do olhar atento do professor.

-Eu nunca pulei esse muro. E se eu não conseguir subir?

-Relaxa, Kat, vai dar tudo certo. Eu te dou um pezinho.

A menina conseguiu subir, embora tenha se machucado um pouco no processo. Quando caiu do outro lado e não viu o seu salvador, quase teve um ataque do coração. Sentiu como se o chão lhe faltasse sob os pés. Minutos depois ele chegou com um boné, óculos escuros e uma blusa com capuz.

-Ai, graças a Deus, achei que não viria - ela quase o agarrou.

-Eu nunca falto a um compromisso.

A estudante enfim estava respirando:

-Vamos? - perguntou ansiosa.

-Aonde?

-Me diga você. Você veio me salvar do meu pai, não veio?

-Vim, mas não vou fugir com você.

A decepção apareceu estampada em neon no rosto da garota:

-E como vai fazer isso?

-Aqui dentro - Retirou de dentro da mochila um fichário rosa cheio de brilho - tem alguns saquinhos de cocaína, já ouviu falar?

Ela acenou com a cabeça.

-Você vai distribuir para alguns amigos e espalhar que tem a droga com para o máximo de gente que conseguir. Só lembre-se de guardar muitos pacotes com você, nos seus armários, bolsas, em todos os lugares.

-Eu vou presa, é assim que você vai me ajudar?

-Claro que não vai. Seu pai é o senador: você não será presa, mas terá que desaparecer por uns tempos, estudar fora, e, quando voltar, já vai ser maior de idade e vai poder fazer o que quiser de sua vida.

A garota pareceu pensativa por alguns instantes. Mas resolveu confiar naquele estranho que lhe estendia a mão, não era sempre que teria uma chance de viver longe daquele inferno.

-Vou fazer o que está dizendo. Mas sabe que não vai se casar comigo se tudo isso acontecer, não sabe?

-Não tenho a intenção de casar com você - riu quase gargalhando. - Eu sou gay.

Ela abriu a boca, surpresa.

-Você, gay? Não parece!

-Não, agora entra, que ninguém pode perceber seu sumiço.

Ajudou a menina a escalar o muro e sumiu daquele beco, lembrando de jogar em um rio próximo seu casaco, óculos e boné, não poderia correr o risco de que o ligassem a aquele “traficante”.

A amiga, ao ver Katlyn surgindo pelo muro de novo, ficou extremamente surpresa:

-Você não ia fugir com o tal cara?

-Não te conto, entendi tudo errado, acho que ele é policial e está investigando meu pai.

-Miga, que bafo!

-Mas vem, você me ajudar em mais uma missão.

-Que missão?

-Vem que eu te conto - saiu puxando a amiga escola adentro.

Sebastian deu algumas voltas na rua, antes de voltar onde havia deixado seu carro e dirigir de volta para casa. Chegou em casa e encontrou o mais novo sentado à mesa tomando o café da manhã.

-Bom dia, Edric - cumprimento-o sentando a mesa.

-Bom dia. Saiu cedo. Senta aí, come também. Você andou falando alguma coisa para a Marie? Ela não quis tomar café comigo.

-Não, mas acho que ela deve estar ocupada.

Depois de alguns minutos em silêncio, Edric disse:

-Eu não consegui dormir e fiquei lendo o livro da Rachel.

-E gostou?

-Eu não acreditei muito. Tem horas que parece que o terapeuta faz mágica. A pessoa não esquece, mas tipo reinventa o que passou. Li a história de uma moça que tinha sido violentada pelo pai. Ela tinha ficado tão traumatizada que “apagou” isso da mente dela e, com a terapia, ela conseguiu se lembrar e trabalhar a lembrança. Acha que a Rachel pode fazer esse tipo de coisa mesmo?

-Não sei, você quer tentar?

Edric pensou um pouco e então perguntou:

-Acha que ela é confiável?

-Acho, ela é quase esposa do Sam. Tenho certeza que ela é uma ótima psicóloga.

-Então acho que vou dar uma chance pra ela. Ou pra mim, tanto faz.

-Então se arruma e vamos ao consultório dela.

-Não tem problema chegarmos sem avisar?

-Não sei, acho que não. Agora vai e não demora, saímos em trinta minutos.

-Ok.

Saiu para se arrumar sendo seguido pelo mais velho.

O consultório de Rachel era cheio de penduricalhos. Na sala de espera, tinha um sofá cheio de almofadas coloridas com os símbolos dos chackras, e, na parede, um espelho, um baguá e um filtro dos sonhos pendurado no meio da sala

-Aqui é meio estranho, não acha? - já estava um pouco arrependido de estar ali.

-Igual à dona do espaço.

Não muito depois, a mulher apareceu com um cliente, do qual se despedia. Ela estava vestida com roupas largas, de algodão cru.

-Sebastian, Edric, que surpresa. Não esperava que viessem tão rápido. Ainda sem avisar.

-Imaginei que poderia nos atender e vim. O Edric gostou bastante do seu livro.

-O David é genial. Mas, enfim, entrem e vamos conversar melhor. Não gosto de conversar na sala de espera.

O consultório fedia a incenso. Sebastian se incomodou um pouco com o cheiro, mas resolveu ser simpático.

-Você tem interesse no EMDR, Edric? - perguntou a mulher assim que os três estavam acomodados.

-Não sei, no seu livro tudo parece tão mágico.

Ela riu:

-Perto das terapias tradicionais, parece milagre mesmo. É muito mais rápido o efeito, embora, no seu caso, vá demorar algumas sessões. Várias sessões.

-Por que várias sessões? - assustou-se com o comentário da psicóloga e segurou o braço de Sebastian intuitivamente.


-Vou tentar explicar - ela falava de um jeito calmo. - No EMDR, através de movimentos bilaterais, nós tentamos mudar as conexões cerebrais, de modo que a pessoa reprocesse o que aconteceu. Você não vai se esquecer do trauma, mas os sentimentos relacionados a ele vão se modificar e ele deixará de ser um trauma. Claro que, quanto mais antigo e profundo for o trauma, mais fortes serão as conexões cerebrais relacionadas a ele, e mais difícil será modificá-las.

-Eu não quero mais fazer isso - apertou mais forte a mão de Sebastian que assistia toda a situação calado.

-Por que não, querido?

-Por que… - tentou não chorar.

-Pode falar, Edric. - Sebastian tentou passar força.

-Por que eu não quero lembrar.

-Edric - a psicóloga falava de um jeito tranquilo, mas sério -, algumas pessoas passam por sofrimentos tão horríveis que se esquecem deles. Mas isso não é bom. O trauma continua lá, afetando a vida emocional da pessoa, embora ela não se lembre mais. O tratamento é para esse trauma não machucar mais você.

-E se der errado? Eu vou lembrar de tudo…

-Nós podemos começar com fatos menores, que não são tão traumatizantes para você, e ir “comendo pelas beiradas” até você se sentir seguro para falar e tratar o seu “grande trauma” - sugeriu. - O que você não pode fazer é ficar sem tratamento.

-Você concorda, Sebastian? Concorda que eu sou doente e preciso de tratamento?

-Ninguém disse que você é doente. A Rachel disse que você precisa de tratamento.

-Edric, eu trabalho com muitos pacientes que passaram pelas mesmas coisas que você. Alguns casos evoluíram para doenças psicológicas graves, como depressão. Você precisa trabalhar o que lhe aconteceu para isso não machucar ainda mais você.

O jovem Brooke não resistiu e começou a chorar. Sebastian não soube o que fazer, mas Rachel se limitou a entregar-lhe uma caixa de lenços e esperou pacientemente que ele se acalmasse, além de dirigir um olhar para Sebastian, dizendo “deixa ele chorar”. Edric chorou alguns minutos e começou a se acalmar, interrompendo o choro.

-Tenho uma proposta a fazer a vocês dois.

-Nós dois? - Sebastian surpreendeu-se.

-Sim. Claro, se você não se importar, Sebastian, gostaria de fazer uma sessão de EMDR com você para o Edric ver.

-Comigo?.

-Todo o mundo tem um trauma que incomoda, lá no fundo - virou-se para o mais jovem: - O que você acha, Edric? Isso te deixaria mais tranquilo?

-Sim.

-O que acha, Sebastian? Não é nenhum pedido absurdo. Eu mesma já fiz EMDR algumas vezes.

-Se isso te tranquiliza, Edric… Vamos, Rachel.

Ela pegou uma prancheta e alguns papeis. Em seguida, perguntou:

-Então, o que gostaria de tratar?

Sebastian parou para pensar. Não tinha nada pra tratar, era um cara bem resolvido e saudável. Tinha uma família maravilhosa que o amava e…

-Sinto que minha família não gosta tanto de mim quanto dos meus irmãos - respondeu, após uma breve hesitação.

Até mesmo Rachel se surpreendeu com a resposta, imaginava que iria tratar algo menos complexo. No entanto, se recuperou rapidamente:

-Poderia dar um exemplo? Uma cena em que isso tenha ficado evidente para você.

Dessa vez Sebastian não hesitou:

-Na última reunião familiar, Adrian foi abraçar Sam antes de mim, e chegamos ao mesmo tempo. Até ele prefere os outros.

Rachel se lembrava da cena. Tinha percebido um desconforto, mas logo o garoto correra para o outro tio. Anotou na folhinha. Em seguida, perguntou:

-Mas Sam não é padrinho do Adrian?

O homem baixou a cabeça, concordando. Depois, disse:

-É verdade. Eu sou um idiota mesmo, é só coisa da minha cabeça.

A psicóloga estava séria:

-O que importa agora são os seus sentimentos. Você sente essa cena como uma lembrança difícil, e uma prova de que não gostam de você?

-Sim, mas…

-Então vamos trabalhar isso. Agora, me diga, quando pensa nessa cena difícil, qual o grau de perturbação, de um a dez, que que você sente?

Edric observava a tudo, atento. Sebastian hesitou, hesitou, e, por fim, respondeu:

-Cinco.

Ela fez um risco no papel.

-Certo. E o que você pensa de negativo a seu respeito com relação a essa cena?

-Ninguém me ama.

Anotou.

-E o que gostaria de pensar a seu respeito que fosse positivo?

Aí ele hesitou. A terapeuta percebeu, e lhe entregou uma folha:

-Aqui tem várias opções de sentimentos positivos. Escolha o que mais lhe agradar.

Depois de uma pequena busca, ele disse:

-Sou amado e querido.

-Certo. Agora, vamos começar os movimentos. Você prefere que sejam movimentos visuais ou táteis?

-Visuais.

-Ok. Eu vou mexer os meus dedos de um lado para o outro, e você vai acompanhar com os olhos, enquanto pensa na lembrança difícil e no sentimento negativo. Se vier algum novo pensamento, deixe-o fluir, é normal. Se precisar que eu interrompa, apenas levante uma das mãos. Tudo bem?

Ele concordou com a cabeça, nervoso. A mulher começou os movimentos, que foram seguidos pelo paciente. Depois de alguns minutos, que, para Edric, pareceram uma eternidade, ela parou:

-Então, alguma sensação, sentimento, pensamento?

O rapaz hesitou.

-Pode falar. Qualquer coisa é importante, afinal, trata-se de você.

-Eu me lembrei… Lembrei que os meus irmãos me esqueceram num quarto escuro por um dia inteiro.

Edric ficou chocado. Nunca imaginara que aquelas pessoas tão legais podiam ter feito uma maldade dessas. A psicóloga não se alterou e principiou a explicar:

-Isso é muito comum, lembrar-se de cenas antigas relacionadas ao trauma trabalhando. Talvez esse seu sentimento de rejeição venha daí. Você quer trocar a lembrança difícil?

Ele olhou para o companheiro, que procurou dar-lhe força com um aceno de cabeça.

-Quero.

-E qual o grau de perturbação que você sente lembrando dela?

-Nove.

-E as palavras negativas “ninguém me ama” ainda fazem sentido para você?

-Fazem.

-E você quer trocar as palavras positivas?

-Não.

-Certo. Concentre-se nos movimentos da minha mão, enquanto se lembra da situação difícil.

Novamente, os movimentos. Edric não cabia em si de ansiedade. Aquilo se repetiu várias vezes, e o grau de perturbação do Sobakin ia baixando aos poucos. Trabalharam o medo do escuro, o medo da solidão, o abandono, depois reafirmaram as palavras positivas várias vezes, sempre com os movimentos da mão da terapeuta. Quando enfim o grau de perturbação chegou a zero, ela respirou fundo e perguntou:

-Quer um chá? Eu normalmente ofereço relaxamento para o meu paciente, mas, se conheço você, você não vai querer.

-Não, mas aceitaria uma conhaque se tiver.

Ela riu:

-Não tenho esse tipo de coisa aqui, até porque muitos dos meus pacientes fazem uso de remédios controlados. Como você está?

-Não sei te explicar, mas diria que bem.

-Viu, Edric? É assim que funciona o EMDR.

Ele se virou para o companheiro e perguntou, entre maravilhado e incrédulo:

-Você tá de boas mesmo?

-Sim, me sinto até mais leve, sabe?

-Caramba!

Rachel sorriu. Não esperava que Sebastian tivesse aqueles sentimentos, ele que sempre pareceu tão seguro de si. Depois pensou melhor e concluiu que era sim, possível, pois o rapaz sempre parecia um pouco distante do resto da família, como se não quisesse se entregar aos momentos que compartilhavam.

-Se sentir mais algo a esse respeito, ou quiser conversar, minha porta está sempre aberta, Sebastian. Saibam que o que é discutido aqui fica aqui. Eu jamais ousaria contar para alguém o que vi aqui.

-Fico feliz com isso, muito obrigado, Rachel.

-E quanto a você, Edric? Posso marcar um horário para você?

-Pode sim. - ainda tinha seus receios, mas se o Sobakin tinha tentado, por que não tentaria?

-Ótimo. Pode ser para sexta-feira?

Concordaram e marcaram. Depois, despediram-se da terapeuta, e deixaram-na com um novo paciente, uma moça loira muito gorda.

-Vamos comer, Edric, estou faminto.

-Vamos.

O jovem aproveitou a pequena refeição para crivar o mais velho de perguntas sobre como ele se sentira durante a terapia. Todas elas foram pacientemente respondidas. Depois, foram para o shopping comprar os presentes que Seby levaria para a família Brooke, à noite. Para Katlyn, Edric escolheu um bonito ursinho de pelúcia, com um coração escrito “I love you” e uma caixa de bombons.

-O senador vai achar que você está caidinho por ela - disse.

-É essa a ideia.

O jovem Brooke riu.

-Para minha mãe, leva esses brincos. Acho que iam ficar bem pra ela, são elegantes.

-Você tem bom gosto. E para o senador? Pensei em um whisky.

Edric fez uma careta de nojo:

-Não me obriga a comprar presente pra aquele tipo.

-Tudo bem, não precisa se incomodar.

-Queria rever a minha mãe e a Katlyn. Quando você as viu, como elas estavam?

-Bem, tenho que te contar uma coisa: A Katlyn vai para um colégio interno no exterior, vai ficar um bom tempo sem vê-la.

-Por quê?

-Sua mãe vai fazer uma cirurgia e ela ficaria sozinha com o senador. Por isso, se tudo der certo, ela vai para um colégio interno.

-Pra ficar livre do senador? Que bom! Ela… sofreu muito mais que eu, sabia? A cirurgia de silicone nos peitos foi para encobrir uma outra.

-Uma outra? - perguntou confuso.

Edric fez um gesto para o outro se aproximar e falou bem baixinho:

-É, de reconstrução de hímen, pra ela parecer virgem e conseguir um bom casamento.

Sebastian ficou estarrecido. Por isso o senador lhe garantira com tanta veemência que a garota era virgem.

-Entendo, é deve ser difícil para ela, passar por tudo isso sendo filha dele.

Edric baixou a cabeça, ficou em silêncio por um tempo, então disse:

-Eu sempre quis ajudar ela de algum jeito, e nunca soube como. Pensei até em contar pra mãe, mas ela sempre dizia que a mãe não iria acreditar.

-Não consigo imaginar sua situação.

-Sabe o que eu pensei agora? A dra. Rachel podia ajudar ela também.

-Quando toda essa história acabar, nós pensamos nisso, que tal?

-Tá!

À noite, Sebastian rumou para a casa do senador, que o recebeu como futuro genro.

-Desculpe vir sem avisar, mas não resisti. - mentiu sorrindo sedutor.

-Que é isso, você já é da casa, Sebastian. Pode vir a hora que quiser.

Alicia também sorria o seu sorriso de plástico. Katlyn não pôde conter a alegria sincera que a inundou:

-Sr. Sobakin!

-Oi querida, trouxe para você. - entregou o embrulho com o bichinho e os bombons. - Espero que sejam de seu agrado.

-Qualquer coisa vinda de você vai ser do meu agrado - respondeu ela, abrindo o presente. - Oh, meu Deus, que fofo! E eu adoro esses bombons! - Agarrou o pescoço dele, dando-lhe um abraço apertado, aproveitando para sussurrar em seu ouvido. - Obrigada, deu tudo certo.

-Vocês são perfeitos um para o outro - a mãe comentou.

-Concordo, Alicia, perfeitos. - o senador disse tentando esconder suas segundas intenções.

A menina largou o pescoço do “futuro marido” e foi na direção da mãe:

-Olha, mãe, que fofo!

A mulher examinou o bichinho, concordando.

-Tomei a liberdade de comprar para senhora, espero ter acertado. - entregou o par de brincos, que foi aberto com alguma ansiedade.

-Oh, são lindos! Muito obrigada.

O velho não se importou. Alicia não mais o seduzia, apesar de ter uma aparência extremamente cuidada. Antes de ela completar trinta anos, ainda conseguia ver nela a menininha com quem se casara, mas, agora, era só uma mulher, como outra qualquer.


-Não sei se é um amante das boas bebidas como eu, tomei a liberdade de lhe trazer um Dalmore 50 anos Decanter. - retirou a bela garrafa e entregou ao senador que quase babou, era um dos melhores whiskys que existiam, além de ser um dos mais caros: aquela garrafa fora comprada por no mínimo $15000 dólares.

-Que maravilha, Sebastian, meu caro! Venha, quero lhe mostrar minhas meninas dos olhos - e o puxou para uma bem fornida adega, onde havia diversas bebidas caríssimas. - Gostaria de experimentar essa maravilha comigo? - perguntou, pegando dois copos para uísque.

-Mas é claro. - precisava de um motivo para comentar sobre o deputado, uma única brecha para colocar esse assunto.

Beberem e conversaram sobre amenidades, além, claro, do senador não parar de falar sobre sua filha e sobre como ela seria uma ótima esposa. Lá pelas tantas, Sebastian largou:

-Estou feliz que tenhamos homens como o senhor na política. Senão…

-Mas o que houve? - perguntou o senador, enchendo pela milhonésima vez o seu copo.

-Não quero importuná-lo com isso, senador. - Se fez de desintendido.

-Oh, meu caro. Não me importuna. Eu adoro falar de política.

-É que não entendo como alguém possa ser eleito para o governar e mantenha negócios obscuros, ainda mais se passando como pastor e homem de bem. - Falou fingindo estar revoltado.

-Do que está falando? - o velho ficou interessado. Odiava pastores e suas malditas Igrejas.

-O deputado ou pastor, não sei direito, Robert Jett. - percebeu que os olhos do senador brilharam ao ouvir o nome. - As igrejas dele estão sendo investigadas pelo ministério público por tráfico de pessoas. Isso é um absurdo! E mesmo com a investigação, ele ainda se mantém firme no poder, com medidas absurdas.

O velho Brooke tomou um gole grande, e pareceu indignado, como se ele não estivesse fazendo o mesmo.

-Sou um idealista, senador. Acredito que um deputado não deve se prestar a esse papel - bebeu um gole de sua bebida, mostrando toda a sua indignação.

-Nesse ponto somos iguais, meu caro - o senador apoiou a mão esquerda sobre o ombro do homem que acreditava que seria seu genro.

-Desculpe importunar nossa conversa com esse assunto, mas gostaria de abrir os olhos da sociedade, deveria ter algo que pudesse fazer.

-E com certeza há, meu caro. E será feito.

-O problema é que eu não posso aparecer e dizer tudo que penso. Infelizmente o nome de minha família precisa ser sempre preservado em todas as hipóteses mas gostaria de ter o poder para desmascarar aquele deputadozinho.

-Não se preocupe, meu caro. Tomarei as medidas que estiverem à minha mão para resolver isso.

-É bom saber que, como cidadão, posso contar com o senhor, senador.

-É o meu dever - garantiu o velho.

Sebastian não aguentou ficar ali por mais muito tempo. Foi para casa, onde encontrou Edric desenhando:

-Como foi lá?

-Conforme o planejado.

-E como elas estão?

-Bem, sua irmã adorou o presente.

-Ela adora ursinhos - Edric sorriu. - Depois que acabar, minha irmã não vai ficar na escola, vai?.

-Não, quando acabar ela volta para sua mãe, e se ela quiser vai se tratar com Rachel como você tinha falado.

-Você contou pra minha mãe?

-NÃO! - levantou o tom de voz e assustou o menino. - Desculpa, sei que ela é sua mãe, mas ela não pode saber, seria perigoso.

-Eu nem tenho como contar, fica tranquilo - falou triste.

-Olha, desculpa, não deveria ter gritado. - respirou fundo. - Eu vou dormir, tivemos um dia longo, boa noite.

Edric ficou um pouco chateado e quis desenhar até mais tarde. Quando viu, já era mais de uma da manhã. Foi correndo para cama, como quisesse ocultar uma travessura.

No dia seguinte, às seis da manhã, Sebastian foi acordado pelo próprio telefone tocando. Atendeu, extremamente mal-humorado:

-Quem é?

Era Sam.

-Maninho, querido, você não imagina o que me aconteceu hoje!

-Às seis horas da manhã, imagino que nada.

O mais velho soltou uma risada sonora:

-O dia começou há seis horas já! Em seis horas, dá pra acontecer bastante coisa.

-Que seja, Samuel. Fala de uma vez!

-Ui, tá estressado? Te acordei?

-São Seis Horas.

-Ok, ok. O negócio é o seguinte: consegui o sarin. É um tubinho bem pequeno, mas tem o suficiente pra montar uma mini câmara de gás. Dá pra matar umas dez pessoas fácil. Bora fazer uma festa e convidar todos os nossos desafetos? Se bem que, pros meus, ia precisar uns dez tubos desse.

-Uau, pra quem disse que era difícil, conseguiu bem rápido.

-Por sorte, mr. Ching tinha um sobrando. Ainda consegui realizar uns outros negócios com ele.

-Por minha causa? Então mereço um bom presente de natal esse ano, seja criativo.

-Você? Quem merece sou eu, que faço todos esses sacrifícios por você e pela Sonya. Se quer saber, acabei de terminar de negociar o veneno com o mr. Ching, sabia? Eta véio difícil de se convencer.

-Estava brincando, Sam.

-De qualquer maneira, venham logo aqui em casa pegar. Rachel não gosta de ver essas coisas. Nem vaca ela quer matar.

Sam já tentara virar vegano, mas era simplesmente viciado em hambúrguer.

-Pode deixar, passo aí daqui a pouco, já me acordou mesmo.

-Ótimo, toma café comigo, aproveita que Rachel tem consulta cedo e não está aqui.

Sebastian sabia que o irmão gostava de beber álcool logo de manhã, ainda mais depois de virar a noite, por isso pegou uma garrafa fechada de conhaque, pedida favorita do mais velho, e rumou para casa dele.

Mais tarde, perto do meio dia, Sebastian recebeu um telefonema. Era Katlyn.

-Socorro, fui expulsa do colégio e meu pai quer me matar!

-Calma, era para isso acontecer mesmo, você está em casa?

-Sim, trancada no quarto.

-Ótimo. Vou praí.

Saiu praticamente correndo. Não podia demorar e dar a chance de o senador machucar seriamente a filha. O velho Brooke ficou muito surpreso ao ver Sebastian ali. Como ele podia adivinhar que estavam passando por um momento delicado?

-Katlyn não pode falar com você agora - disse. - Não é uma boa hora.

-É pelo o que aconteceu, eu vi na internet, por isso vim. - mentiu, só esperava que o senador acreditasse.

-Na internet? - o político ergueu uma sobrancelha.

-Sim. - torceu para que algum site realmente tivesse divulgado alguma coisa, qualquer mini nota já bastava.

-Mas já?! - o sujeito ficou ainda mais nervoso. Começou a andar de um lado para o outro, e acendeu um novo cigarro - sendo que ainda estava fumando o anterior. Depois de muitas demonstrações de desespero, disse: - Eu não acredito nisso. Uma menina criada aqui, ó, na palma da mão, bem educada, com tudo do bom e do melhor.

-Eu aposto que ela não tem nada a ver com isso senador, aposto que algum colega usou da sua ingenuidade para se favorecer. - se fez de desintendido para aliviar a situação.

-Ela espalhou pro colégio inteiro que estava vendendo! Tinha droga no armário e nas bolsas dela! Eu não sei o que fazer, Sebastian. E isso ainda já saiu na imprensa!

Essa maldita internet. O senador odiava a internet. Graças a ela, a audiência da TV Verdade havia caído, levando para o buraco muitos contratos milionários junto e seus podres ainda eram divulgados.

-Sobre a internet não é difícil de resolver, tenho um conhecido que consegue fazer essas notícias de quinta desaparecerem em um passe de mágica, se for do seu interesse ligarei para ele agora mesmo.

-Isso seria maravilhoso! Faça isso, por favor.

-Claro, mas por favor se acalme, está a ponto de ter um ataque, senador. - saiu retirando-se e ligando para a Sonya, seu marido era expert em internet, conseguiria criar e apagar uma notícia em poucos minutos.

Ficou algum tempo explicando pro cunhado a situação, afinal não era todo dia que alguém difamava e limpava um nome em menos de 30 minutos. Ao fim do telefonema, deu de cara com Alicia, que o observava. Se coração falhou em uma batida, será que ela havia percebido alguma coisa?

-Sr. Sobakin, meu marido confia muito no senhor. Por favor, diga para ele ser tolerante com a Katlyn. Ela é só uma criança.

-Pode deixar, Sra Alicia, vou conversar com ele. - foi ao escritório onde o senador o aguardava, ansioso:

-E então? Falou com ele?

-Falei sim senhor, em, no máximo, trinta minutos, nenhum vestígio do assunto será mais dito.

O velho pareceu extremamente grato. Então disse:

-Sebastian, você é o filho que eu gostaria de ter tido.

-Muito obrigado pelo elogio senador. Agora que o senhor está mais calmo, vamos falar da Katlyn.

-Eu entenderei se não quiser mais casar com minha filha, depois desse lamentável incidente - embora eu deseje, mais do que tudo, tê-lo como genro.

-Longe disso, senador, eu realmente aprecio a Katlyn. Como já lhe disse, toda essa situação deve ter sido por conta de sua ingenuidade, no máximo algum rompante de juventude. - passou-se por ingênuo, e pelo sorriso de canto do senador havia feito o discurso correto. - Porém, o senhor me entende que o nome de minha família não pode estar envolvido em um escândalo como esse, não é?

-Oh, claro, entendo completamente. Além disso, eu preciso tomar uma medida disciplinar para que essa situação não se repita. Tem alguma sugestão?

Bingo! Haviam chegado ao ponto que Sebastian desejava:

-Eu sugiro mandá-la para um colégio interno no exterior. Minha família tem contatos com um excelente. Apenas meninas e freiras, ambiente sadio e refinado. Pelo menos até o escândalo ser esquecido e tudo estiver resolvido.

O senador não gostou muito da ideia. Ficar longe da sua “menininha”? Quando ela voltasse, aos dezoito anos, já seria uma mulher e não teria mais graça nenhuma.

-Me parece uma medida um tanto severa, não acha?

-Se o senhor pensar em outra, estou à sua disposição, porém repito: por mais que eu goste da Katlyn, ela nunca seria aceita pela minha família, envolvida em um escândalo desse nível.

-Sim, claro. Por favor, me passe os contatos desse colégio. Você tem razão, é o melhor a se fazer.

-Além disso, senador, deve pensar em sua carreira. Se nenhuma medida for tomada, vão sujar sua imagem também. Sabe como alguns políticos podem jogar baixo. - pronto, se havia alguma dúvida na cabeça do senador ela foi totalmente removida.

O velho hesitou um pouco, então pôs a mão no ombro do mais jovem e disse:

-Sebastian, eu admiro muito isso em você. Jovem, mas seguro e decidido. Como eu. Somos extremamente parecidos, meu filho. Você falou exatamente o que eu diria, se não se tratasse da minha filha que tanto amo.

Sebastian sentiu o peso daquelas palavras, será que era realmente parecido com o senador?

-Desde a primeira vez que o vi, senti que havia uma ligação entre nós. Está escrito nos seus olhos. A maneira como você olhou para o Edric quando o comprou, a maneira como olha minha filha. Você é como eu, Sebastian, se seguisse o rumo da política, iria adorar lhe ter como aliado. - o senador baforou o cigarro. Depois, pensou, sentiria falta da Katlyn, mas a Yolanda, a cozinheira, tinha uma filha que estava para completar oito anos, daria um bom divertimento. Em seguida, chamou a empregada:

-Chame Alicia e Katlyn, temos uma excelente notícia para dar a elas.

-Deseja conversar a sós com sua família, senador? Se preferir eu me retiro. - ainda sentia o baque das palavras do senador, mas tentava recuperar-se.

-Não me importaria se você ficasse, mas você deve ter muito o que fazer. Não vou retê-lo por mais tempo.

Sebastian deu graças a Deus por isso e foi embora. No carro, respirou várias vezes seguidas, e, tenso, quase não conseguiu manobrar o carro.

Na casa dos Brooke, Alicia e Katlyn chegaram ao escritório do senador, que fumava, mais tranquilo:

-Filha, o que você fez foi muito grave - começou ele. A menina assentiu com a cabeça. - Mas estive conversando com o Sebastian, seu noivo, e ele me deu uma ótima ideia para resolver tudo.

Alicia respirou fundo. Que bom rapaz era esse Sebastian! No início fora contra casar a Katlyn - afinal, ela só tinha 15 anos - mas, agora, sabia que o marido fizera a melhor escolha.

-Vou enviá-la para um colégio interno no exterior, além de receber uma ótima educação, ficará longe de problemas.

Katlyn recebeu o baque da notícia, não sabia se ficava feliz por ficar longe de tudo ou triste, amava a mãe e os poucos amigos que tinha, não queria se distanciar deles, mas entendia que era a melhor maneira de se afastar de seu pai.

-Não teria uma outra maneira? - Alicia até tentou persuadir o marido, já estava longe de seu menino, agora de sua menina. Não suportaria a frieza daquela casa sem seus filhos.

-Não, Alicia, não há! Essa é a melhor maneira de abafarmos esse caso. Se quiser pode adiar sua cirurgia e ir com Katlyn, ajudando-a na mudança e adptação. - não teria sua princesinha, mas com alguns cuidados a filha da empregada pareceria uma princesinha também.

Então, a mulher se irritou. Estava cansada dos desmandos do marido, daquela solidão imensa, da falta que Edric fazia, da vida, de tudo. Gritou:

-Você NÃO vai tirar Katlyn de mim! Já basta ter tirado o Edric, sem me consultar, agora vai levar Katlyn? Eu não permito!

O velho ficou muito surpreso com a reação da esposa. Ela normalmente aceitava tudo tacitamente, e não era de gritar, nem de se irritar - criava pés de galinha. Logo, porém, se recuperou e foi firme:

-Graças à sua má educação, ela estava traficando drogas na escola. Se não fosse por isso, ela ficaria em casa como sempre foi!

-Minha má educação? Você que sempre me afastou dos filhos!

-CHEGA! - seu grito assustou a menina presente.

A menina não sabia onde se enfiar. Nunca havia visto os pais brigarem, e não estava acostumada a ser a razão das brigas. Morreu de vontade de dizer para a mãe “deixa, eu quero mesmo ir pra o colégio”, mas controlou-se.

-Quem manda nessa casa sou e eu sei o que é melhor, você gostando ou não. Se quer ficar perto de sua filha, vá com ela, não me importo, mas que a Katlyn vai para o colégio interno, ela vai e ponto final. - deu um tapa na mesa encerrando o assunto.

Alicia chegou a abrir a boca para bradar mais alguma coisa, mas não soube o que dizer. O que os casais se diziam exatamente quando brigavam por horas? Calou-se. Por mais que passasse na sua cabeça dar um fim naquela situação e lhe pedir o divórcio, pensava em seus filhos, o que seria deles, Katlyn ainda teria alguns direitos por seu filha, mas e Edric? Quem cuidaria dos estudos de seu menino? Respirou fundo. Chamou a filha para o quarto, e abraçou-a com muita força. Sentia-se a pior mãe desse mundo, e não era a primeira vez. Ao se sentir abraçada, Katlyn retribuiu, e, depois de um bom tempo, disse:

-Mãe, eu tou de boas. Não vai ser tão ruim esse colégio. - tentava acalmar a mãe que chorava mais ainda. - Além do mais, você virá comigo não é?

-Não sei, filha. Não sei se permitem. Acho que seu pai só falou aquilo pra me confortar.

-Qualquer coisa você aluga um apartamento perto do colégio, por mais que ele seja interno terei os finais de semana livre, e poderemos ficar juntas. Mãe, você precisa de férias do papai, eu vejo como ele te trata, venha, vai ser divertido. - queria tirar a mãe daquela casa, não a queria sozinha com o pai, afinal sabia do que ele era capaz.

Alicia não conseguiu responder: começou a chorar. Abraçou a filha outra vez. Claro, por que não? Adiar, talvez cancelar a plástica. Passara tanto tempo querendo se manter jovem e bonita que esquecera do que era mais importante na vida.


Sebastian estava tentando se tranquilizar desde que saiu da casa do senador, deixou o vidrinho do veneno com a Sonya para que ela conseguisse as digitais do deputado e rumou para casa. Precisava deitar um pouco, aquela conversa não tinha sido nem um pouco boa, as palavras do velho Brooke martelavam em sua cabeça, mas tentava acreditar que eram mentiras, que o Brooke só dissera aquilo pois sua atuação havia sido formidável desde o início, era somente isso. Chegou em casa e encontrou Marrie saindo, ela ia ao mercado ou algo do gênero, dissera que havia comida pronta e que o Edric estava no quarto lendo. O que ela não disse é que Edric não estava no próprio quarto, mas no de Sebastian. Este entrou, inocente, em casa, e rumou para o seu cantinho. Chegando lá, encontrou o mais jovem de cuecas, dormindo, com um monte de gibis espalhados pela cama.

Quase não se controlou, passado o susto inicial, ficou analisando as curvas do rapaz, como aquela cueca desenhava suas nádegas, como ele tinha um corpo magro, mas bem definido, e como suas pernas eram levemente torneadas.

Edric fora deitar lá porque queria ficar mais perto do Seby, sentir o seu cheiro. O que não imaginava é que iria dormir e ser flagrado lá.

Ficou mais algum tempo analisando aquele garoto, tão inocente, mas tão bonito e tão sensual, quando caiu em si já estava quase encostando naquele corpo perfeito, voltou a si antes que o fizesse, sentia seu baixo ventre arder de desejo.

-O que você ia fazer, Sebastian? - pensou reprimindo seu desejo. Sua primeira reação foi se recriminar e lembrar das palavras do senador “Você é igual a mim Sebastian. A maneira como você olhou para o Edric quando o comprou, a maneira como olha minha filha. Você é como eu, Sebastian”. Sentiu seu coração falhar na batida e lembrou do próprio Edric falando do senador “Ele é um monstro!”. Um monstro, era isso que era também: um monstro, igual ao senador.

Foi tomar um banho frio, para acalmar seu corpo, mas a mente não acalmava. Pensamentos iam e vinham em segundos, como balas. Deixou-se cair no chão do box do chuveiro e ficou ali, com a água lavando seu corpo e seus pensamentos. Estava claro: era um monstro, era por isso que sua família não o amava, era por que eles sabiam disso, sabiam que ele era um monstro, pior que o senador.

Ficou mais algum tempo sentindo a água gelada escorrer pela sua pele, até que ouviu a porta do banheiro sendo aberta. Era Edric, que, num estado de semiconsciência, viera urinar. Observou-o descer brevemente a cueca e começar a mijar. Seby queria morrer. Será que o menino não percebia o mal que lhe causava?

Aos poucos, o jovem despertou. Olhou em volta, e deu de cara com, sob o vidro jateado do box, Sebastian nu. Soltou um gritinho apavorado e sexy - o assassino não pôde deixar de notar. O mais novo saiu, quase correndo, e se trancou no quarto, repetindo como um mantra seu imbecil, o que você tava fazendo, seu imbecil, o que você tava fazendo. Quando, já em seu quarto, se acalmou, somente uma imagem vinha à sua cabeça, a imagem de Sebastian nu, sentado no chão do banheiro, molhado, com a água escorrendo por seu corpo. Precisava sair dali, arrumar um lugar para morar, sozinho, pra não fazer nenhum mal ao pobre Seby. Mas como? Como se sustentaria? Ao fim de todas as reflexões, decidiu que sairia para procurar um emprego, assim que desse. O pobre Sebastian, por seu lado, só faltava bater com a cabeça na parede, tamanho o ódio de si mesmo, e da situação. Imaginou-se chupando aquele membro, se beliscou, se arranhou, se mordeu. Sossega, imbecil, sossega. Esse menino já sofreu demais.

-s-s-s-s-s-s-s

O deputado Robert Jett foi inspirado em um conhecido político. Sim, vocês sabem qual. O lance do tráfico humano foi para ficar mais dramático.

Enfim, o próximo capítulo é o último. Finalmente, vocês saberão o que acontece com mr. Brooke, Edric, Sebastian e Katlyn. Não deixem de ler!

Leiam aqui:  capítulo cinco - final

Capítulo final

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