segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Criminal - Capítulo 2: Desejo


Leiam o primeiro capítulo aqui.

Lê: Eu tinha prometido o segundo capítulo no sábado seguinte (que seria o sábado retrasado), mas fui viajar e não deu pra postar. Nesse sábado eu simplesmente esqueci, só lembrei agora. E ainda tinha que revisar. "/

Enfim, eis o segundo capítulo aqui. Espero que gostem =D

O jantar na casa do Mr. Brooke foi uma das coisas que eu mais quis escrever. 

Capítulo 2 - Desejo

No dia seguinte, acordaram cedo. Edric estava ansioso: mal dormira. Sebastian, pelo contrário, dormira bem, pois tinha decidido o melhor método para o fim do Mr. Brooke, e agora só teria que pensar em quem incriminar no processo.
-Nossa, vai ser o máximo, nunca andei de lancha antes. A sua lancha é grande? - o jovem Edric tinha outras preocupações.
-Edric, come devagar, senão vai engasgar. - Seby tomava seu café. - Não muito, tem o tamanho de uma lancha.

-Eu não tenho a menor noção do tamanho de uma lancha - riu.

-Então façamos o seguinte, você vê e depois me explica se é grande ou não - respondeu rindo da ingenuidade do menino.

-Tá bom.


A empregada veio trazer o leite quente e ele a parou:

-Vamos andar de lancha hoje, sabia? Vai ser o máximo.


    Ela se assustou um pouco, mas acabou sorrindo:

    -Mas vai ter que se alimentar bem antes.

    -Sim, e isso vai ser fácil: a sua comida é uma delícia.

    Marie teve vontade de apertá-lo. No início achara estranho, aparecer do nada um menino ali, mas agora estava achando uma boa ideia essa do sr. Sebastian. Aquele apartamento estava precisando de um colorido.
    Foram andar de lancha. Edric, empolgado, corria na frente, parava, esperava ser alcançado e voltava a correr. Quando chegaram à marina, ficou olhando todos aqueles barcos, imaginando qual deles pertencia a seu “dono”.
    -Qual deles é o seu? - perguntou voltando-se para o mais velho.

    -A Stalin - apontou para sua lancha, que, comparada às outras, era de médio porte.

    -Parece boa - deu o veredicto. - Mas quero ver por dentro.

    -Então vamos, mas cuidado para não cair. - subiram a bordo e Edric observava tudo como uma criança em um parque de diversões. Fez questão de explorar cada cantinho da lancha e acabou perguntando se podia pilotar “um pouquinho”.

    -Agora não, mas quando estivermos em alto mar eu deixo - disse sério, dirigindo a lancha.

    -Ah, certo.

    -Não esquece o protetor solar, Edric. Ainda é cedo, mas o sol está bem forte. - ordenou e depois riu de si mesmo, estava parecendo seus irmãos.

    -Por que está rindo?

    -Lembrei de quando saía de lancha com meus irmãos e a Sonya me lambuzava de protetor solar. - já haviam saído da zona de tráfego de lanchas e barcos, estavam um pouco mais pro alto mar.

    -Sonya parece ser uma mãezona.

    -Ela puxou minha mãe, é brava igual - Sebastian explicou saindo da cabine.


    Edric não respondeu. Fez uma aba com a mão sobre os olhos e observou o mar longamente. Aquilo era um paraíso, sem a menor dúvida. Ele tinha tanta sorte de estar com um cara como o Sebastian!

    -Eu vou mergulhar. -  O dono da lancha tirou a camisa e a bermuda, ficando somente de sunga. - Fica longe da cabine, hein? Não quero que nenhum acidente ocorra. - avisou e se jogou na água.

    -Eu não sou criança - gritou pra ele, que nem ouviu. Então, ficou sentado ali, olhando o mar e tentando adivinhar onde a cabeça do mais velho iria aparecer. 

    Sebastian ficou alguns minutos submerso e voltou a superfície em busca o ar que seus pulmões pediam. 

    -Quase acertei! - riu de si mesmo, antes de pensar em como o novo amigo ficava bonito com os cabelos molhados e bagunçados. Assustou-se com esse pensamento, e fez de tudo para afastá-lo.
    Sebastian subiu na lancha e sacudiu os cabelos para tirar o excesso de água.

    -Edric, me dá a toalha - falou, mas o garoto estava paralisado. Confuso e assustado com os próprios pensamentos. Na cabeça dele, só tinha a imagem do mais velho molhado encarando-o. - Edric, você está bem?
    O jovem Brooke despertou, aí. Sacudiu a cabeça:

    -Ahn, ah? Bem? Sim, estou bem.
    O pobre rapaz tinha se colocado no lugar do senador Brooke. Acreditava que achar alguém bonito era estar a um passo de abusar dele. 

    -Me dá a toalha. - dessa vez recebeu a toalha e jogou e secou o cabelo. Foi dentro da cabine e voltou com uma garrafinha de hidrotônico. - Bebe, o sol já deve estar te fazendo mal. 
      O mais jovem aceitou mecanicamente, culpando-se por pensar aquilo do seu próprio benfeitor. Como poderia fazer algo tão ruim a alguém tão bom como Sebastian?

      -Está tudo bem? Edric está com dor de cabeça? - já havia tido ensolação quando mais novo, então estava preocupado com o menor.
      Oh, meu Deus, ele ainda está preocupado comigo. Eu sou um monstro!
      -Não tenho nada, só estou… pensando.

      -E você não vai me contar o que está pensando.

      O pobre rapaz lançou um olhar cheio de culpa para o outro, pensou um pouco e então respondeu:

      -Tava me lembrando da vez que saí a pescar com meu pai - mentiu e sentiu-se pior ainda. E isso não era tudo: Sebastian sem camisa e sem bermuda era uma verdadeira tentação. Seu abdômen sarado, suas pernas torneadas, coxas grossas, braços grossos. O observador deteve-se por uns momentos nos pelinhos que começavam logo abaixo do umbigo dele e continuavam, descendo, até entrar na sunga preta.
       
      O anfitrião optou por respeitar os pensamentos do outro. Secou novamente o rosto e ficou a observar o horizonte distante. Pensando em seu plano e em como se comportaria no jantar de mais tarde. Em um determinado momento, bateu uma brisa que fez com que Sebastian arrepiasse os pelos do corpo. Edric, que seguia cada movimento dele, percebeu e virou o rosto. Não, não podia pensar assim, não podia.
      O outro foi atrás das roupas, alheio aos pensamentos maliciosos de Edric. 
      -Acho que o tempo vai mudar, ainda quer pilotar Edric? - olhou para o garoto que estava imerso em pensamentos.

      -Ahn? Ah, não precisa.

      -Então tá, vamos que já passou da hora do almoço, quero te levar pra almoçar em um restaurante aqui perto - posicionou-se na cabine e guiou sentido a costa. Ficou em silêncio concentrado em dirigir que não percebeu o garoto que estava perdido em um mundo distante em sua cabeça.

      -Vamos comer peixe frito? - perguntou Edric, muito depois.

      -Vamos sim.

      -Ah.

      Edric passou o resto do dia estranho. Nem lembrou, à noite, que queria ir para a casa da Sonya. Sebastian que o apressou e o deixou lá como combinado, em sua cabeça essa mudança repentina de humor tinha haver com o barco, saudades do pai, ou algo do tipo. Depois de deixar o mais novo da casa da irmã, guiou para a mansão dos Brooke. 
      Foi recebido por um mordomo uniformizado, que o conduziu à sala de visitas, onde estavam o sr. e a sra. Brooke, mal conseguiu disfarçar o sorriso ao reparar em como a Sra Brooke tinha plásticas. 

      Os dois se levantaram para cumprimentá-lo, e ela deu um sorriso falso com seus lábios cheios de botox.

      -Deixe-me apresentar minha esposa, Alicia.

      Alicia seria muito bonita sem todas aquelas operações. Seu corpo parecia ter sido desenhado artificialmente, seios grandes demais, cintura fina demais, lábios inchados, coxas musculosas. Como uma boneca.
      -Muito prazer - ela disse, sem desmanchar o sorriso. - E desculpe a nossa pequena, ela está terminando de se arrumar.

      -Sem problemas, eu que peço desculpas se cheguei antes do combinado - tentava ser o mais cordial possível.

      -Oh, não - o velho Irvin replicou. - Sabe como são as mulheres, sempre se atrasam…

      -É que temos muito o que nos arrumar - Alicia rebateu, em tom de brincadeira. - Mas sente-se, por favor, senhor Sobakin.


      Sentaram-se os três.

      -Aceita algo para abrir o apetite? - o velho lhe perguntou.

      -Aceito, whisky.


      O sr. Brooke serviu dois copos e entregou um ao convidado. Brindaram e, aí, apareceu a menina. Sebastian se apavorou ao vê-la. Era uma menina mesmo, pequena e magra, com duas perninhas fininhas de criança. Seu rosto estava coberto por uma maquiagem pesada, que não conseguia disfarçar a aparência infantil. A única coisa adulta nela eram dois seios falsos enormes, pesados, que destoavam do seu corpo miúdo. 

      -Katlyn, cumprimente o sr. Sobakin.

      Ela lhe estendeu a mão esquerda, depois percebeu que tinha feito errado, recolheu-a e apresentou a direita:
      -É um prazer conhecê-lo - tentou ser sensual, mas a voz também era de menina.

      -Prazer é meu - disse ainda tentando se localizar, que família era aquela?

      -Papai me falou do senhor - ela sentou-se ao lado da mãe, e ficou ainda mais criança perto daquele mulherão de plástico. - Disse que se conheceram em uma reunião de negócios. 

      Sorriu consigo mesmo, então aquele velho nojento não havia contado que tinham se conhecido no leilão do Edric.
      -O senhor deve ser muito ocupado - ela apertava as mãozinhas de unhas enormes, nervosa.

      -Bastante - tentava parecer o mais educado que conseguia, mas toda aquela situação o deixava com náuseas.

      -Só posso dizer que estou lisonjeada em o senhor ter reservado um pouco do seu precioso tempo para vir me conhecer - ela havia decorado aquela frase, com toda certeza. Ao terminar de dizê-la, sorriu. Tinha os dentes muito pequenos e brancos. O velho também mostrou seus dentes, mas eram amarelados do cigarro.

      -Imagine, mas me conte mais sobre sua vida, como é seu dia a dia? - não poderia esquecer o motivo de estar ali, conhecer a rotina dos Brooke.

      -O meu dia? Eu vou pra escola de manhã. Acordo bem cedo pra arrumar o cabelo e a make. À tarde tenho inglês, vôlei e pilates. E eu comecei aulas de piano às sextas-feiras.  

      -Então você passa praticamente todos os dias na rua, menina aplicada você. - boa informação, uma a menos para se preocupar.

      -A aula de piano é aqui em casa. Eu toco naquele piano ali - apontou um instrumento enorme no meio da sala, branco com arabescos dourados.

      -Interessante e vocês, imagino que tenham uma rotina bem cheia - perguntou aos pais da menina.

      -Oh, sim, não paramos um minuto - Alicia respondeu - não é, amor?

      O marido servia uma nova dose de uísque:
      -Claro, claro. Katlyn, porque não toca aquela música que você aprendeu na aula de piano. Espero que o senhor goste de música erudita.

      -Claro - pensou: espero que ela saiba tocar, não quero piorar minha noite.

      -Eu adoro música erudita - a garota quase deu um pulinho. - Meus colegas de classe ouvem só música ruim, mas eu não quero saber. Meu preferido é Chopin. 

      O jovem Sobakin perdeu as esperanças de ouvir algo que prestasse naquela noite quando a ouviu errar a pronúncia. 

      -Filha - o pai estava bem sério - vá tocar a música.
      Ela correu. Quando começaram as primeiras notas, Sebastian percebeu que ela não era uma iniciante. Tocava muito bem. Ela tocou por alguns minutos, observada pelos pais satisfeitos.

      -Seis meses e já está assim. Não é um prodígio?
       
        Nunca que aquela garota tocava há apenas seis meses. Mas fingiu acreditar:
        -Nossa, muito bem, parabéns, deveria seguir carreira musical - retrucou para ela que ficou encabulada com o elogio, baixou a cabeça e voltou a sentar-se.

        -Vocês jovens - o velho gargalhou com o comentário o Sobakin. - Ela tem que ser prendada e arranjar um bom marido, imagina uma mulher tocando.

        -O marido dela ficará muito feliz em vê-la tocar tão bem - corrigiu Alicia.

        -Vou tocar pra ele - balbuciou a garota derrotada.

        -Não disse? É o que ela mais quer!

        A empregada veio chamá-los para o jantar. Sebastian não resistiu a pensar se aquela não era Yolanda. A mesa era farta, com um pato estendido sobre uma travessa. A menina tentava puxar conversa com o visitante:
        -O sr. também toca algum instrumento, sr. Sobakin? - ele se limitou a negar com a cabeça. A jovem pareceu se decepcionar, mas por um breve instante. A um olhar do pai, ela retomou a conversação: 

        - Nem nunca teve vontade? - nova negativa. - Tocar é tão bom! Eu amo tocar.

        -Toca há quanto tempo?

        Ela hesitou. Quanto tempo mesmo?
        -Três meses - e, em seguida, deu-se conta de que falara besteira, ao sentir o olhar reprovador do pai. Baixou a cabeça.

        -Toca muito bem pra tocar há tão pouco tempo.
        -Obrigada - murmurou.


        Alicia serviu-se de mais vinho e então perguntou:

        -Tem namorada, senhor Sobakin?

        -Não, digamos que não tenho tempo para isso. - respondeu sorrindo.

        -Nossa Katlyn também não, não é, filha?

        A menina se limitou a assentir com a cabeça, ocupada com a sua comida. Sebastian aproveitou uma distração da empregada que estava lhe servindo vinho para fazer com que ela derrubasse um pouco em sua camisa branca.
        -Oh, meu Deus! - a pobre mulher ficou realmente apavorada.

        -Sua incompetente! - A sra. Brooke gritou. - Saia daqui!
        -Tudo bem senhora, eu só posso usar o seu banheiro para me limpar? - disse fingindo estar contendo a raiva, para parecer educado.


        Foi o senador quem respondeu:

        -Claro que pode. Katlyn, leve-o até o banheiro enquanto providenciamos uma camisa limpa para ele - a menina limpou a boca com o guardanapo e se levantou.

        -Não há necessidade de uma camisa nova senhor, eu só preciso, bem, com licença. - saiu e seguiu a menina que subia as escadas.

        -Sinto muito pela sua camisa - disse ela, baixinho.

        -Fique tranquila, não foi sua culpa - seguia ela até o banheiro.

        -É aqui - ela indicou uma porta trabalhada. - Vou esperar o senhor para poder levá-lo de volta à sala de jantar, essa casa é um labirinto.

        -Obrigado, mas sou bom em decorar caminhos, se puder me deixar um pouco sozinho eu agradeceria - disse mostrando sua camisa e demonstrando um pouco de falta de paciência, para que a garota pensasse que ele precisasse de um tempo.

        -Sim, entendo, esperarei nas escadas. - disse se retirando, só esperava que seu pai não lhe visse sozinha quando deveria estar guiando o convidado. Katlyn não gostava de ser atirada nos braços de estranhos daquela maneira, mas acreditava que era um mal necessário e que todos os pais faziam isso. Entrou no próprio quarto, que não ficava longe, para retocar a maquiagem.

        Sebastian, que observava tudo, aproveitou quando ela entrou no próprio quarto e começou a explorar os cômodos. A casa era grande, e luxuosamente mobiliada. O quarto do casal estava trancado. Observou os outros quartos do andar e ao que tudo parecia eram quartos de hóspedes, já estava voltando para o banheiro, quando avistou uma porta diferente das outras, ela tinha uma tranca a mais, olhou para ver se ninguém o via.

        -Melhor presente, Sonya - falou para si, tirando uma chave mestra feita sob medida de seu chaveiro. - Que não tenha alarme. - rezou e forçou a entrada, conseguindo entrar tranquilamente.
        Pegou sua lanterna para iluminar o quarto. Sempre se surpreendia com a podridão humana, mas aquele homem era o máximo de podre que já havia visto. Na parede havia fotos de crianças nuas, das mais variadas idades, em uma parede havia várias das mesmas duas crianças, se aproximou e iluminou as fotos e quase vomitou com o que viu. As primeiras eram do Edric, nas mais variadas posições possíveis, em todas as fotos ele estava amordaçado e vendado, em algumas amarrado.

        Percebeu que havia uma cronologia nas fotos, desde ele mais novo, com uns oito anos, até a mais recente. Não aguentou olhar por muito tempo. Virou o rosto para o outro lado, e aí viu fotos da Katlyn - ainda menor, antes dos seios falsos.
        Ficou enjoado, controlou-se o máximo que pode, tinha que voltar senão iriam achar estranho a demora, saiu, trancou a porta e voltou rápido para o banheiro. Trancou-se e praticamente tomou um banho na torneira da pia.  Quando abriu a porta a menina o aguardava.
        -O senhor sabe, não é? - esperava que ele estivesse mais calmo, queria aquele momento com ele desde o início.

        -Eu sei o que? - Sebastian sentiu o sangue fugir de suas veias.

        Os olhos dela estavam úmidos:
        -Eu vi quando o senhor entrou no quarto - longo silêncio. Ela, então, caiu de joelhos: - Por favor, me tira daqui. Me tira daqui. - E aí começou a chorar de verdade, chegou a soluçar. - Só o senhor pode fazer isso. Meu pai quer que eu me case com o senhor. Por favor, assim o senhor me tira daqui.

        -Levante-se, se o seu pai vê-la no chão não vai conseguir explicar. - Sebastian tentava parecer sério.
        Eu não me importo! Por favor, me ajude!

        -Eu me importo, pois se isso acontecer não poderei ajudá-la - continuava sério. Droga, desde quando se importava, precisava conversar com seu pai, ele conseguiria colocá-lo de volta nos eixos.

        A garota se ergueu rapidamente, enxugando os olhos, que já tinham um brilho diferente:

        -Então vai me ajudar?

        O que iria responder, que iria matá-lo em breve então não teria com que se preocupar?

        -Olha eu vou ajudar, tá bom? Mas preciso que coopere comigo e, no momento certo, faça tudo que eu disser, por mais estranho que seja.
        -Farei, sim, muito obrigada! O senhor é um anjo!
        -Ótimo, agora vamos descer. - Tinha se envolvido demais, o que era um perigo.

        Chegaram à sala, e os pais perceberam que a garota estava absurdamente feliz. O senador achou que era uma boa notícia.

        -Conseguiu se virar no banheiro? - perguntou Alicia.

        -Consegui, sua filha me ajudou - sorriu e viu que a menina se iluminou.

        -Peço desculpa novamente - Alicia pediu.


        Terminaram a janta sem mais incidentes. Então, Irvin convidou Sebastian para fumarem uns charutos lá fora. Katlyn pediu licença para ir dormir, o que foi concedido. Sebastian não queria ir, mas resignou-se a seguir o Mr. Brooke e aceitou o charuto, não era um dos que mais gostava, mas dava para o gasto.

        -Você vai adorar a Katlyn - principiou o velho, longe dos olhares da esposa. - Eu sempre a protegi dos rapazes, nunca a deixei ir sozinha à casa de amiga alguma. É virgem e pura como um anjo - contou.

        -Ela é adorável - “e quem a protegeu de você, velho asqueroso”, pensou.

        -E meiga. Fala pouco, e sabe a hora de se calar. Obediente como uma mulher tem que ser. Falando nisso, como está o Edric? - Deu uma longa baforada.

        -Muito bem, ele é um bom menino - falou deixando parecer que havia duplo sentido em suas frases.

        -Sim ele é, mas às vezes precisa de um corretivo, tem um péssimo hábito de achar que tem opinião - gargalhou alto baforando o charuto. - Mas eu imagino que você saiba fazer isso melhor que eu. Vai gostar da Katlyn, ela não opina sobre nada, aceita tudo que queremos.

        -Imagino que sim - colocou o charuto na boca e seu celular tocou. - Perdoe-me. Atendeu. - Alô

        Era a Sonya:

        -Tou com problemas, maninho.

        -Está tudo bem com o Edric? - perguntou baixo para não ser ouvido e preocupado.

        -Não, o Edric está ótimo, já jogou bola, já contou história, já jogou video-game e escambau com os pequenos. O problema é um pouco maior, mas não sei se é bom falar por telefone. Cê tá onde?

        -Na casa do senador Brooke.

        -Eita, então é uma péssima ideia falar por telefone. Quando vier buscar o Edric a gente conversa, pode ser?

        -Claro que posso ir agora, negócios em primeiro lugar. - Era uma ótima deixa.

        -Liguei em boa hora né, então estou te esperando. Beijos, Seby.
           
        O senador pareceu consternado:

        -Oh, que pena. Nossa conversa estava ótima.

        -Sim, a noite estava muito agradável, mas você entende não é?

        -Oh, sim, claro. Negócios em primeiro lugar. Volte qualquer dia desses, tenho umas coisas para lhe mostrar.


        O jovem Sobakin conseguiu se safar logo, e pegou o carro, dirigindo rapidamente para a casa da irmã, que o recebeu efusivamente, como era seu costume:

        -Maninho, que bom que você chegou. Eu não sei o que faria sem você. Vamos pro meu escritório conversar, não gosto que as crianças ouçam.

        -Eu sei. O Edric está aqui? Não quero que ele nos escute.

        -Não, está no quarto dos meninos brincando,mas vamos - já no escritório, a mulher acomodou-se em sua macia poltrona vermelha e começou: - Temos um novo cliente.

        -Eu também, quem começa?

        -O meu caso é preocupante. Sabe o deputado Robert Jett, pastor, homofóbico, a favor da família tradicional e contra o divórcio?

        -Diz que ele não é contratador?

        -Pois é. Mas o pior não é isso. Ele quer que mate a mulher dele e o amante dela. E sabe quem é o amante dela?

        -Me surpreenda.

        -O nosso irmão, o Scott!

        Scott havia rompido com a família por não concordar com o negócio dos assassinatos.

        -É muita ironia - suspirou ela.

        -Você não vai matar o Scott, né?

        -Jamais! Ele pode ter sacaneado a gente, mas eu jamais faria isso com ele.

        -Que bom, por que a mamãe te mataria, literalmente.

        -Não fale o óbvio, Seby, preciso de uma luz - suspirou. - Por mim, eu matava o Robert.

        -Ia te falar o óbvio que seria recusar o trabalho, mas aposto que já pegou o dinheiro. - tentou pensar em uma solução.

        -Lógico, por que acha que estou falando com você e não com o papai? - Sonya foi perto de irmão e enlaçou seu pescoço. - Me ajuda, Seby.
        -Estou pensando.

        Seby, você fumou charuto na casa dos Brooke, está fedendo. Falando nisso, o que aconteceu com sua camisa? - Agora que estava mais calma notou seu irmão.

        -Longa história, Sonya. Eu tive uma ideia, mas não sei se você vai gostar. - Era o único que mantinha contato com o Scott, apesar de tudo ele era seu irmão.
        -Já estou ouvindo. - Voltou à sua poltrona.

        -Eu tenho que matar o miserável do Mr. Brooke - não escondeu o asco que tinha daquele velho. - Que tal se incriminasse o Deputado?

        -Até agora eu estou amando a ideia, por que disse que iria odiar? - não entendeu o asco que seu irmão sentia pelo alvo, ele não era de se importar muito. - Mas precisamos planejar bem essa ação.

        -Precisamos do Scott.

        Ela sacudiu a cabeça, séria:

        -Ele não vai querer nos ajudar.

        -Vai quando souber que o cara quer a cabeça dele. - respirou fundo. - Pensa Sonya, ele é promotor, pode abrir e fechar casos a hora que quer, pode manipular provas e tal, ele pode fazer com que pareça que o senador Brooke está investigando a conduta ética do Deputado, sei lá isso é com o Scott.
        -Isso vai parecer o fim do mundo pra ele. Mas, claro, podemos tentar. E você consegue tudo. Um passarinho me contou que tu ainda tem contato com ele.
        -Claro, ele é meu irmão, quem brigou com ele foi o papai, eu não me meto nisso, e outra, quem vai me proteger se um dia eu precisar? - disse sorrindo.
        -Ele só consentiu porque tu é o caçulinha amado - ela riu. - Mas vamos tentar. - pegou um conhaque para os dois. - Vamos, agora me conta por que esse ódio do senador?

        Começou a relatar tudo, desde o inicio. Ela ia bebendo o conhaque, interessada. Ao fim da narrativa, sentia ânsia de vômito:

        -Os próprios filhos?   Que horror! Pobre Edric. Não é à toa que muita gente esteja desacreditada da política. Imagino que vai ser um prazer matar ele. Já sabe como?

        -Vai sim, mas ainda não sei como, quero que ele sofra. Você tinha que ver a cara de horror nos olhos do Edric quando me contou e a menina hoje, se o papai tivesse pego esse trabalho, colocaria uma bala na cabeça dele na hora. 
        -Papai é meio impulsivo às vezes. Mas eu tenho uma sugestão maravilhosa: Sarin.

        -Sarin? - perguntou confuso.

        -Sim, um veneno mortal, causa um aperto no peito, problemas respiratórios até o final que é uma morte por sufocamento.

        -Gostei, e pela sua cara já sabe até como conseguir.

        -Vou falar com o Samuel, aposto que ele consegue para mim.

        -Claro, o Sam consegue tudo pra você, agora quando eu peço é uma má vontade - havia gostado da idéia.

        -Ciúmes, Seby? - riu da cara do caçula.
        -Não - respirou aliviado. - Falando nisso, preciso de alguma droga para incriminar a filha do Brooke.

        -Por quê? - olhou pasma para o irmão, aquela criança já não havia sofrido o suficiente?

        -Pensei em uma maneira de tirá-la daquela casa e ainda me aproximar do Brooke.

        -Sou toda ouvidos. - amava as ideias mirabolantes do filho mais novo da família.

        -Vou incriminá-la por tráfico de drogas, fazer um acordo com o Scott para pegar leve e acusá-la por uso somente e ainda conseguir um acordo para que ela vá estudar em uma escola só para meninas bem longe, reclusão total da família Brooke.

        -Engenhoso. Mas, se você vai matar o pai dela, precisa mesmo fazer isso? - Sonya tinha o coração mole. - Me parece que você e o senador já são próximos o bastante.

        -Não sei quando vou conseguir matar o senador sem deixar suspeitas e quero tirar ela daquela casa, até por que assim terá menos uma pessoa para atrapalhar meus planos.

        -Tá de coração mole, Seby, ou é impressão minha? - riu do irmão, ele nunca se preocupava com os danos colaterais.

        -Não é essa a questão, mas você não viu o que eu vi, eles eram somente crianças

        -Ok, ok. Não tá mais aqui quem falou. Sam consegue um punhadinho de maconha como qualquer um consegue uma bala.

        -Ótimo.

        -De quebra ainda faremos uma caridade. Adoro meu trabalho.

        Nesse momento bateram na porta.

        -Entre! - ordenou.

        -Senhora, gostaria de saber se o senhor Edric vai dormir aqui, já passou da hora dos meninos dormirem e eu tenho que sair, como avisei a senhora - a babá dos meninos, que batera na porta, informou com cuidado.

        -Não, Clara, o Edric vai embora comigo daqui a pouco.

        -Põe os meninos na cama e manda o Edric vir aqui - ordenou a patroa. - Não precisa esperá-los dormir, depois que fizer isso pode ir. - a Babá obedeceu e se retirou.
        -É, já está tarde. Então ficamos combinados? Eu cuido do Sam, e você cuida do Scott.

        -Sim, preciso da maconha o mais rápido possível.

        -Relaxa, falarei com ele amanhã bem cedo, até o final do dia já estará contigo.

        -Te amo, irmã - beijou a irmã que sorriu.

        Edric bateu na porta timidamente, mas Sonya ouviu:

        - Pode entrar.

        -Atrapalho?

        -Claro que não, querido. Eu estava falando pro Seby o quanto você se divertiu com os pequenos hoje. A Clara agradeceu demais, eles são muito ativos.

        -Eu que agradeço por ter me recebido tão bem, e os meninos são muito legais.

        Ela sorriu:

        -Venha quando quiser. Vamos adorar.

        Então os dois foram embora. Edric estava muito feliz. Sebastian estava pensativo, tinha tido uma noite longa e a única coisa que precisava era de um banho quente e de uma noite de sono, no dia seguinte iria visitar o irmão no escritório e já imaginava o susto que ele tomaria a se ver envolvido nessa história. Chegaram em casa e subiram sem conversar muito, Sebastian estava exausto.

        -Deu tudo certo no jantar?  - Edric tentou puxar assunto.

        Sebastian respondeu com um monossílabo.

        -Sim - Viu o olhar do mais novo se contrair. - Desculpa Edric, meu dia foi longo e quero dormir.

        -Sim, desculpa incomodar.

        -Imagina Edric, bem você já sabe onde é meu quarto, a porta estará aberta se precisar de alguma coisa é só chamar. - trancou as portas e seguiu para o seu quarto.

        Edric ficou um tempo parado vendo o mais velho sumir no corredor e depois se encaminhou para o seu lugar de dormir. Trocou-se, botando o pijama novo e se olhou no espelho. Não era bonito, pelo menos não o suficiente para atrair alguém como Sebastian, que merecia uma moça maravilhosa, cheia de qualidades, e não um moleque de 17 anos, franzino e maltratado.  
        Ligou a sua luminária antes mesmo de apagar a luz. Deitou-se na cama e ficou olhando pra ela, esperando as bolinhas começarem a subir. Suspirou. Queria tanto mais atenção do Sebastian… Depois se recriminou: mais ainda? Rolou na cama esperando o sono chegar, via a noite ir embora e o sono não vinha.
        Lá pelas tantas, levantou-se para ir ao banheiro. Depois, quis beber água. Foi até a cozinha, tomou um copo generoso e, no caminho, decidiu espiar o quarto do outro. “Quem sabe ele está acordado, e a gente conversa um pouco?” pensou, enganando a si mesmo. O que queria, na verdade, era ver o outro dormindo. Caminhou pé ante pé e, chegando lá, surpreendeu-se ao achar a porta aberta. Vislumbrou a silhueta do dono da casa, dava para ver as pernas grossas. Ficou ali em silêncio observando-o dormir.
        Por fim, tomou coragem e avançou uns passos, entrando no quarto. A luz fraca da lua entrava pela janela e apenas deixava entrever o corpo adormecido. Sebastin se remexeu, descobrindo de vez as pernas e a bunda, escondida atrás da cueca box. Edric parou, assustado como se tivesse sido surpreendido. Seus olhos insistiam em  vasculhar o corpo do outro, enquanto sua mente gritava “não, não!”. Sem querer, passou a língua pelos lábios, umedecendo-os.
        Sebastian sentiu que tinha alguém em seu quarto e enfiou a mão embaixo do colchão para pegar a arma, mas seu movimento foi tão delicado que não assustou o visitante que estava completamente perdido em pensamentos. Ficou em silêncio fingindo o sono e percebeu que o visitante em seu quarto era seu mais novo bem.
        -Edric? - chamou o menino e virou-se deixando a arma repousar onde estava.
        O pobrezinho ficou tão apavorado quanto se tivesse sido ameaçado pela arma que nem percebeu existir. Começou a gaguejar algum pedido de desculpas e a suar frio. O dono da casa sorriu, divertido com a cena:
        -O que houve? Não está conseguindo dormir?


        Edric baixou a cabeça e murmurou um “não estou” muito baixo.

        -Teve pesadelo? - replicou calmo, depois de tudo que descobrira sobre a vida que aquele menino tinha levado, não imaginava como ele conseguiria dormir.
        -Ahn? Não, pesadelo não. Eu não cheguei mesmo a fechar os olhos.

        Sebastian acreditou que o menino estava mentindo.

        -Vem, dorme aqui? - bateu na cama, chamando-o. O pobre rapaz corou até a raiz dos cabelos. Quis articular uma negativa mas seu corpo foi mais rápido: atendeu o chamado e sentou-se do lado do  outro.

        Sebastian o puxou em um abraço e fez com que ele recostasse a cabeça em seu peito. Percebeu que ele estava bem travado e nervoso.

        -Calma, eu estou aqui e ninguém vai machucar você.

        -Ninguém - repetiu o mais jovem, mas sem relaxar.  


        Sebastian começou a fazer carinho na cabeça do mais novo, que foi se esquecendo aos poucos, do que sentira. Foi restando apenas a alegria de estar recebendo cafuné. Até que uma sensação morna foi se apoderando dele, como um mar viscoso, o cansaço foi falando mais alto e ele enfim adormeceu.

        Sebastian ficou um tempo observando o menor dormir e se pegou admirando-o sob a luz da lua. Aquele ar angelical, a pele branca, os cabelos lisos, o físico de garoto, o jeito infantil. Ele era tão fofo e ingênuo e tão cativante…

        -Sebastian, por favor não! - falou baixo para não ser ouvido. Era só o que faltava, se apaixonar por aquele menino que jurou proteger.
        Sentindo-se um monstro, levantou-se e foi dormir no quarto de hóspedes, para evitar macular aquela pequena sombra indefesa, mesmo que fosse com seus pensamentos. Mas não conseguiu dormir, sempre pensando naquele que repousava em seu quarto. 
        Voltou a seu quarto e resolveu cuidar do sono do mais novo, convencendo-se que estava ali para acudi-lo caso ele viesse a ter outro pesadelo. Mas isso não aconteceu. Edric dormiu como um anjo e Sebastian acabou por adormecer também.

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        Acontecimentos bafônicos! Não perguntem onde estávamos com a cabeça quando escrevemos isso. E, sim, eles dormiram juntos (morremos de fofura nessa parte).

        Lê: eu tive que reescrever algumas das minhas falas, porque eu sempre escrevia "tu" em vez de você - é o costume. Na segunda revisão, ainda achei alguns "tus" que sobreviveram ao expurgo. Agora acho que está bom - embora um contigo tenha escapado. Vou deixá-lo lá.

        Vai ficar sem o ps. da Grazi porque ela está offline e eu não quero esperar pra postar amanhã.
        Leiam o capítulo 3 aqui:capítulo três - família

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